
Pelo que se sabe até agora da primeira fase do acordo comercial entre Estados Unidos e China – sempre é bom fazer ressalvas nesse assunto cheio de armadilhas e reticências –, há uma boa e uma má notícia para o Rio Grande do Sul. Embora o acerto abre a possibilidade de encerrar a escalada de protecionismo que marcou o último ano de comércio global, ainda há muitas dúvidas sobre seu real alcance e sobre sua aplicação.
A má notícia para o Rio Grande do Sul está no coração do acordo: a China se compromete a comprar dos EUA um adicional de US$ 200 bilhões ao ano. Desse valor, no próximo ano, US$ 40 bilhões desse total viriam de compras de produtos agrícolas. Isso significa que os chineses terão de reorientar a compra de grãos de outros países. Como são os principais clientes da soja brasileira, o Rio Grande do Sul pode ser afetado, já que esse é o principal item de sua pauta de exportações à China.
No capítulo das boas notícias – no sentido relativo, claro –, está a manutenção das sobretaxas impostas pelos Estados Unidos a produtos chineses. Segundo Trump, "todas as tarifas serão removidas quando finalizarmos a segunda fase" (do acordo). As taxas extras cobradas do calçado chinês ajudaram a transformar os Estados Unidos em uma espécie de compensação para a Argentina. Enquanto os embarques para o país vizinho caíram em cerca de um terço, os para os EUA subiram quase na mesma proporção, com menor volume mas produtos de maior valor.
Conforme a Abicalçados, os sapatos são na lista número 4 das sobretaxas americanas, que foi dividida em duas: a primeira havia sido alvo de adicional tarifário em setembro de 2019, e a segunda seria sobretaxadas a partir de dezembro passado. Como a assinatura do acordo foi combinada com antecedência, os EUA suspenderam a segunda onda de salvaguardas. Na mesma publicação em que essa decisão foi publicada, detalha a entidade, há previsão de redução da sobretaxa já vigente em "futuro próximo". Mas ao menos até agora, como frisou a coluna lá no início, ainda é boa notícia.