Se é verdade que fiscalização no Brasil precisa de regras mais claras, é fato que restringir a caracterização de condições de trabalho análogas à escravidão à sua forma mais gritante é uma óbvia simplificação. Tanto que o governo dever ser, mais uma vez, obrigado a recuar da proposta original. A mudança foi criticada por Ministério Público do Trabalho, Organização Mundial do Trabalho e pela própria procuradora-geral da República. Raquel Dodge. O Planalto já admite recuo no caso que pode passar para a trajetória do atual governo como sua trapalhada mais clamorosa – ao menos até a terceira semana de outubro de 2017. O cinema permite um panorama sobre diversas formas de escravidão e diversos motivos para aperfeiçoar relações de trabalho.
Biutiful (2010)
Em uma Barcelona muito diferente da dos cartões postais, foca em negócios com mão de obra imigrante ilegal chinesa. O protagonista vende trabalho escravo, subornando a polícia e recebendo um percentual nas transações. É um bom filme, mas exige humor inabalável para ser encarado. O título, claro, é uma ironia.
Terra Fria (2005)
Uma mãe solteira com dois filhos para sustentar vai trabalhar nas minas de ferro de Minnesota. O salário compensa o trabalho duro e perigoso, mas o assédio dos colegas de trabalho torna-se um problema maior do que as condições inóspitas, gerando uma disputa judicial que faz história.
Germinal (1993)
Baseado da obra de Émile Zola, o filme é um clássico das condições extremas de trabalho e suas consequências disruptivas. Não se tratavam de africanos sequestrados nem imigrantes, mas franceses miseráveis explorados por seus semelhantes em uma mina de carvão.
O Homem de Ferro (1981)
Não é prequal do seriado de superherói, é má tradução – o original era de mármore. O filme de Andrzej Wajda mostra que não é só no capitalismo que condições de trabalho inadequadas geram conflitos e greves. O cineasta polonês mostra distorções do regime soviético que acabaram provocando seu fim.