No dia em que o Banco Central confirmou as expectativas e levou o juro básico a 8,25% ao ano, a menor taxa desde julho de 2013, o Brasil testou outro recorde. A bolsa de valores fechou com alta de 1,75%, em 73.412 pontos, apenas uma centena abaixo de sua máxima histórica. Os dois movimentos, naturalmente, estão conectados.
A taxa básica abaixo de 8,5% dispara o gatilho que reduz a 70% da Selic a remuneração da poupança. Também encolhe automaticamente os ganhos de quase todas as aplicações em renda fixa. O que resta para o investidor que quer obter mais retorno? Tentar a sorte na bolsa. Nos últimos dias, um conjunto de decisões reforçou negócios com ações. O plano de privatização do governo federal e a aprovação da Taxa de Longo Prazo como base para financiamentos do BNDES, estão entre os fatores de estímulo ao mercado de capitais.
Embora investidores e especuladores costumem ser conduzidos por decisões racionais, a flutuação dos preços nem sempre segue esse critério. Nesta quarta-feira (6), o Ibovespa desenhou montanha-russa que partiu do entusiasmo com o que analistas chamaram de "flechada no pé" do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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A saída de aplicadores da renda fixa para a variável vai alimentar a bolsa, mas não é o principal motor do provável novo recorde. Os estrangeiros ainda dominam as compras de papéis, e devem estar mirando muito além do horizonte de curto prazo.
Em 20 de maio de 2008, data do maior patamar de todos os tempos, o mundo e o país eram outros. A bolha imobiliária americana ameaçava, mas ainda não havia explodido, arrastando boa parte do sistema financeiro global. O Brasil desfrutava da condição de recém-admitido na primeira divisão dos bons pagadores, com uma inédita nota em grau de investimento. O dólar era cotado a R$ 1,65. O setor público terminaria o ano com superávit primário – sobra de recursos para pagar os juros da dívida de 4,07% do PIB.
Fazia muito mais sentido ter a bolsa bombando. O novo recorde, quando chegar – é questão de dias –, vai encontrar o Brasil com notas de risco em grau especulativo e ameaçado de novos rebaixamentos, dólar no patamar de R$ 3 e rombo de R$ 159 bilhões no orçamento federal. Com duas reuniões ainda previstas para calibrar o juro neste ano, o BC avisa que vai reduzir o ritmo. Ainda tem boas chances de levar a taxa à mínima histórica, abaixo de 7,25%.