O diagnóstico veio junto com o bom resultado: a maioria dos 1,4 milhão de empregos gerados no período entre maio e julho representa vagas informais, ou seja, sem carteira assinada. Ao anunciar que a taxa de desocupação caiu 0,8 ponto percentual, de 13,6% no período entre fevereiro e abril, para 12,8% nos últimos três meses, o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azevedo, expressou preocupação com o fato de os postos de trabalho serem de "baixa qualidade".
É bom lembrar que essa reação acentuada ocorreu durante um período de alta incerteza no país, marcado por delação da JBS, discussões sobre o comando do país, denúncia contra o presidente Michel Temer, oscilações do mercado financeiro. É natural que quem contrate ainda não se sinta confortável para se comprometer com uma relação mais estruturada de trabalho. Mais ainda, é da natureza das crises que uma de suas faces mais dramáticas, o desemprego, vá se diluindo de forma tentativa.
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Ainda não há sequer a certeza de que o país de fato saiu da recessão, o que deve ficar mais claro nesta sexta-feira (01), quando o IBGE vai divulgar os dados do PIB do segundo trimestre. Além disso, o período também foi de aprovação da reforma trabalhista, que entra em vigor dentro de dois meses. Muitos empregadores, mesmo ainda em dúvida sobre quanto as mudanças vão "pegar" – dúvida sempre legítima no Brasil –, vão esperar para estabelecer contratos de longo prazo sob as novas regras.
Mas o fato de o gráfico desenhar a inflexão da taxa de desemprego pode ajudar o país a lidar com outra das variáveis não mensuráveis da crise. Enquanto o desemprego não parava de crescer, muitos brasileiros que mantinham seus vínculos se comportavam como se pudessem ser os próximos a alimentar a estatística. Evitam comprar, comprometer renda de longo prazo, sob o temor da demissão. A relativa volta à normalidade será um estímulo para que os empregados voltem a fazer planos, comprem e planejem. Sem novos sustos, isso vai significar a volta da venda, da produção e de mais empregos. Não será de um salto, mas com a prudência aprendida da lição da farra de consumo.