No momento em que ocorreu, com os precedentes que a instituição tem e nas circunstâncias do desfecho, a mudança de comando no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não representa movimento usual de governo. A saída de Maria Silvia Bastos Marques equivale à primeira fissura na blindagem construída em torno da área econômica da gestão Temer.
A formação do grupo de técnicos sem passagem pelo Congresso havia sido um alívio para parte do empresariado que erguia a sobrancelha para o vice de Dilma e parcela do mercado financeiro que avaliava mal o ministério com alto risco de exposição à Lava-Jato. Embora Paulo Rabello de Castro seja um economista respeitado, identificado com o liberalismo econômico – portanto, com a baixa incidência do Estado na economia –, ele é um homem do presidente. Ou seja, da cota pessoal de Michel, como os mais próximos se referem ao peemedebista.
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A primeira missão de Rabello foi comandar o IBGE. Na presidência do órgão que produz os indicadores mais importantes do país – entre os quais o PIB, que terá divulgação do primeiro resultado positivo em dois anos na quinta-feira –, teve de dar explicações.
Havia desconforto entre analistas com a mudança na metodologia nas pesquisas de comércio e serviços, que elevaram o resultado de janeiro. Foi nesse contexto que Rabello soltou a frase "que se dane o governo". Era a forma irônica de assegurar que o IBGE não alteraria dados para beneficiar o amigo Michel.
A saída de Maria Silvia foi precedida de queixas de que ela havia "fechado as torneiras" do BNDES. A executiva explicava que sua gestão era mais "seletiva". Em suas primeiras declarações, Rabello reforçou a camada de aço, dizendo que as críticas ao excesso de rigor da antecessora "provavelmente não procedem". Se der sinais de abrir torneiras sem seletividade, corre o risco de perceber que fissuras em blindagens são indesejáveis, mas rachaduras em barragens são desastrosas.