Com ajuda de uma receita extraordinária de R$ 1,27 bilhão, resultante da aplicação de regras da antecipação dos contratos de concessão das áreas de geração e transmissão, o grupo CEEE teve, no ano passado, seu primeiro lucro desde 2009. O resultado final de toda a companhia foi positivo, de R$ 396,6 milhões, fruto do ganho de R$ 923,7 milhões da CEEE GT e de prejuízo de R$ 527,2 milhões da CEEE D. O bilhão "extra" teve apenas registro contábil, quer dizer, não representou entrada real de recursos, foi apenas incluído no balanço. Só começará a ser pago efetivamente em 2017, por oito anos.
Então, um desafio é manter bons resultados sem novas receitas extras. Na avaliação do diretor financeiro da companhia, Roberto Calazans, a divisão de geração e transmissão da companhia tem viabilidade econômica e financeira assegurada. Por outro lado, o reiterado prejuízo da área de distribuição – a que transporta energia até o consumidor final – fez Calazans admitir que a empresa precisará fazer esforço, quase um milagre, para salvar a concessão da área de distribuição. No ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula o setor, permitiu a renovação condicionada a não repetição de prejuízo em dois anos seguidos.
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Como nada autoriza prever que a perda de R$ 527,2 milhões do ano passado será revertida, Calazans adiantou as providências que estão sendo tomadas para tentar evitar a perda da concessão. A CEEE contratou a mineira Ceres Consultoria Empresarial, por licitação, para avaliar e colocar à venda participações da estatal gaúcha em 18 consórcios. O valor total de mercado desses ativos é avaliado em R$ 1 bilhão, e, nas contas da diretoria, R$ 300 milhões seriam suficientes para evitar o pior. Até o final de junho, deve ser definido quais serão ofertados.
– Os acionistas (66% governo do Estado e 33% Eletrobras) avaliam que o prejuízo com a perda da concessão é maior do que eventuais ganhos nesses projetos – justificou o diretor.
Calazans lembrou que o atual presidente da CEEE, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, que não participou da apresentação dos resultados porque teve um problema de saúde, já sob controle, tem afirmado que, diante da falta de recursos dos acionistas, a sobrevivência da estatal como grupo depende de uma "solução endógena", ou seja, gerada pela própria companhia. No entanto, ao avaliar o grau de sucesso que a oferta de ativos de energia elétrica teria no mercado, Calazans reconheceu:
– Está todo mundo vendendo.
Em bom português, há dúvidas sobre a existência de compradores, e se houver, estarão dispostos a pagar pouco por um ativo abundante.