Foi o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), que deu a senha e resumiu a ópera: "É proibido gastar". A frase é paradoxal: um administrador não é eleito para colocar uma pedra sobre o cofre, mas para aplicar, da maneira mais eficiente e democrática, os parcos recursos provenientes dos tributos dos cidadãos. Com diferentes frases e gestos, outros prefeitos deram o tom da nova fase da gestão municipal: o compromisso com a responsabilidade fiscal. Em muitos casos, não se trata de escolha ou convicção, mas de imposição das circunstâncias.
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O novo compromisso – ao menos no discurso – é resultado da crise, mas também de anos em que respeitar o princípio mais fundamental da responsabilidade com as finanças públicas não foi prioritário. Um dos princípios da economia é administrar necessidades infindáveis com recursos finitos. Diante da crise e de más gestões, os recursos são mais do que finitos, são escassos.
Mais do que provar que promessas tão impactantes quanto difíceis de manter como "não gastar" ou se vestir de gari para limpar a cidade no primeiro dia de trabalho, a exemplo de outro prefeito de alta visibilidade, João Doria (PSDB), de São Paulo, os prefeitos que tomaram posse no primeiro dia de 2017 terão de mostrar que a responsabilidade fiscal imposta não ficará só no discurso.
De Porto Alegre a Manaus, passando por Curitiba – onde Rafael Greca (PMN) anunciou a decisão de cancelar um festival de música para investir em saúde – e Belo Horizonte – Alexandre Kalil (PHS) pediu "juízo" aos vereadores –, o tom é fazer cortes e reorientar gastos. A eleição foi marcada pela preferência a não políticos ou não tradicionais. Para entregar o mandato, não podem ficar só no discurso, que flui com mais facilidade do que a prática. "Arrancar o que não deu frutos", como avisou o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan (PSDB), é fácil no papel e no microfone. Agora, mãos à obra.