O que se esperava do governo Michel Temer era um padrão Itamar Franco, com um ministério de técnicos respeitados e notáveis para fazer a travessia até a normalidade. Com exceção da área econômica, onde conseguiu emplacar em parte esse perfil, o plano falhou na largada. Neste final de semana, a combinação das primeiras ondas do tsunami da delação dos executivos da Odebrecht com os resultados da pesquisa Datafolha abre duas opções visíveis para o Brasil, a sarneyzação – o presidente fica, mas como um fantasma – e a argentinização da crise 2001/2002 – uma sucessão de presidentes substitutos.
Nenhuma das duas é promissora para a economia. Mas um organismo doente precisa, antes de evoluir para a cura, eliminar focos de infecção. Considerando que a decolagem na rejeição presidencial retratada no levantamento do Datafolha antecede as 43 menções a Temer na delação de Cláudio Melo Filho, não é preciso bola de cristal para projetar piora futura na avaliação – se houver tempo para uma nova rodada.
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Cláudio Melo Filho é um dos 77 executivos da Odebrecht que fizeram ou farão delação premiada. Mas também não é só um entre tantos. Como ex-diretor de relações institucionais da empreiteira, fazia a conexão direta entre os interesses da segunda maior companhia privada do país, considerados todos os seus negócios, e o Congresso. Está ao menos entre os cinco mais importantes, do ponto de vista do impacto. Passava por ele o orçamento estimado em R$ 88 milhões de 2006 a 2014, entre propinas, caixa 2 e "doações legais em troca da defesa de interesses da empresa", como o próprio definiu.
Ainda há pela frente as ondas de choque das revelações de Emílio e Marcelo Odebrecht, pai e filho que se sucederam no comando dos negócios. Para avaliar sua força, é bom lembrar que o primeiro aceitou cumprir quatro anos de prisão domiciliar, e o segundo está preso há um ano e meio em Curitiba.
No país em que a incerteza se tornou uma variável com tentativa de acompanhamento estatístico, como fez a Fundação Getulio Vargas (FGV), que lançou avaliação na sexta-feira passada, veremos agora um indicador que sobe sem hesitações.