No geral, a economia em 2016 piorou, despiorou e repiorou. No específico, há empresas que se anteciparam e arrumaram a casa antes do agravamento da crise. Camile Bertolini di Giglio, 37 anos, começou em 2013 a reestruturação da Bertolini, fabricante da linha de limpeza Gota Limpa, e agora vê o resultado: a empresa de Imigrante, no Vale do Taquari, prevê encerrar este ano com alta de 40% no faturamento em relação a 2015.
Para 2017, a projeção é de que a alta siga com a entrada dos produtos da marca em grandes redes de supermercado. O feito valeu à diretora comercial um raro troféu Empresário (sim, ainda no masculino...) do Ano 2016, da Agas. À coluna, contou detalhes da estratégia da companhia, criada por seu avô há cinco décadas.
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Onde você trabalhou antes de entrar na Bertolini?
Iniciei como professora de ballet, aos 14 anos, aqui em Imigrante. Depois, fui para Porto Alegre para fazer graduação. Sou formada em Administração. Quando estava na faculdade, senti necessidade de trabalhar. Quem estuda Administração precisa ter a prática perto da teoria. Comecei como estagiária em uma empresa de balões promocionais, de gás hélio. Fiquei seis meses. Em seguida, fui para um banco. Tinha 18 anos, o trabalho era perfeito porque conseguia conciliar com a faculdade. Permaneci lá por sete anos. Entrei como operadora de caixa e saí como gerente de pessoa jurídica.
Depois de fazer MBA em Gestão Empresarial na ESPM, vi a oportunidade dentro da empresa da família. Regressei para Imigrante e comecei a trabalhar na área financeira da Bertolini por conta da experiência que tive no banco. Atuei para preparar a empresa para seu crescimento. Estive no marketing e, depois, fui para as áreas comercial e internacional. Há dois anos e meio, assumi o comercial nacional e internacional. A empresa foi criada por meu avô em outubro de 1966. Ele trabalhava com um cunhado. Depois, chegaram meu pai e meu tio.
Qual é a avaliação que a Bertolini faz de 2016?
Este ano vem sendo muito bom. A empresa iniciou reestruturação em 2013. Com a crise, as pessoas substituíram produtos, marcas e locais onde faziam compras. A crise nos ajudou porque nos preparamos para encará-la. As pessoas estão mais abertas para experimentar novos produtos de acordo com seu orçamento. Ao buscar novos mercados, a empresa procurou o cenário externo. Temos um processo de internacionalização da marca. Também apresentamos crescimento muito forte no Rio Grande do Sul e em outros Estados. A preparação antes da crise faz com que a empresa consiga alcançar 40% de crescimento neste ano. Tínhamos projetado alta de 23% no faturamento, mas superaremos isso. Estamos indo muito além.
E qual a previsão para 2017?
Projetamos continuar com crescimento forte. Esperamos alta de até 40% em razão da entrada em grandes redes e da abertura de novos mercados internacionais.
Como será a entrada nas grandes redes?
Temos negociações, entraremos aos poucos. Não será em todas as redes ao mesmo tempo. As grandes redes têm peculiaridades, como atendimento e logística. Preferimos crescer em uma de cada vez. Temos boas expectativas. Há um mapeamento, que não impede que o comercial venda mais do que o esperado inicialmente. Buscamos produtos com apelos diferentes para os consumidores.
Como foi feita a preparação antes da crise?
Contratamos uma consultoria e começamos a fazer gestão de custos. Depois, iniciamos projeto de gestão orçamentária. Todos da empresa estão engajados para fazer o que projetamos. Procuramos oferecer o melhor atendimento aos clientes. Conforme nossa estratégia, iniciamos todos os projetos trabalhando com supermercados menores. Agora, vamos em busca das grandes redes. Muita gente pergunta por que os nossos produtos não estão no Zaffari, por exemplo. Ainda não estão, mas há negociações. A estratégia é essa.
Houve demissões durante a crise?
Neste ano, não tivemos enxugamento de quadro. Nossa venda não tem sazonalidade, tem linearidade. Há uma pequena queda no inverno, devido à baixa no consumo de produtos de limpeza, mas logo volta com força entre agosto e setembro.
A Bertolini pretende contratar em 2017?
Sim. Permanecemos com expectativa de contratações.
Como você vê a economia no próximo ano?
Acredito que será um pouco melhor do que 2016, sem tanta instabilidade política. Mas o governo precisa fazer seu papel para que o nível de confiança siga forte. O varejo não sofreu tanto. As pessoas precisam se alimentar, limpar suas casas. O crescimento dentro da nossa área é possível. Segundo pesquisas, consumidores que provaram nova marca durante a crise permanecerão fiéis nos próximos cinco anos. Isso é uma das fontes com as quais trabalhamos para identificar que ainda haverá crescimento.
Qual o cenário do mercado aqui no RS?
O momento de crise fortalece as empresas que estão melhor preparadas. Há diminuição de concorrência neste período porque muitas marcas estão com baixo nível de estruturação e acabam se enfraquecendo. Muitas fecham, entram em recuperação judicial. Em itens de limpeza, continuaremos crescendo nas classes intermediárias. Há movimento de substituição de produtos de marcas líderes por aqueles de menor preço. No entanto, existe desconfiança por parte do consumidor de que não poderá ir para o menor preço, já que não tem margem para erro. A busca é por produtos com preços intermediários. Esse é o nicho da Gota Limpa.
Trabalhamos em uma faixa de produtos intermediários. Procuramos apresentar itens de qualidade com valor justo. Temos produtos que atendem a diferentes públicos. Há itens com apelo de preço, e outros, de diferenciação, direcionados para as classes A e B. Os de preços reduzidos têm maior foco para classe C e respingam nas D e E. Com orçamento mais curto, os clientes encontram soluções.
Para quantos países a empresa vende?
Estamos em mais de 10 países. Vendemos para América do Sul e África.
E para quantos Estados?
Do Rio Grande do Sul até São Paulo. São quatro Estados.
A empresa tem quantos funcionários?
São 200. Com o crescimento, tivemos que contratar em outubro e novembro (cerca de 20 pessoas).