O mais perto que Donald Trump chegará dos interesses do Rio Grande do Sul será passar na frente da unidade da churrascaria Fogo de Chão da Pennsylvannia Avenue, a poucas quadras da Casa Branca. Se a América Latina não está no radar do Salão Oval, o Brasil tampouco, e ainda menos um pequeno Estado ao norte do Uruguai e ao leste da Argentina – países com os quais tem grande identidade cultural e baixa eficiência nos negócios.
O maior problema do Rio Grande do Sul com a eleição de Trump para a presidência dos EUA é o momento. O Estado tem forte vocação exportadora e esperava, com a mudança interna na estratégia de comércio internacional, voltar a se aproximar da maior economia do planeta que, em 2009, deixou de ser o maior parceiro de negócios do país e do Estado. Mais do que protecionista, Trump é isolacionista. Melhor arquivar essa perspectiva por algum tempo.
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A China, país que mais compra mercadorias gaúchas – especialmente soja –, não costuma encomendar produtos industriais, característica mais latino-americana. Desde que se tornaram maiores parceiros comerciais do país e do Estado, os chineses só têm aumentado sua presença por aqui, tanto como negociadores quanto como investidores. Com Trump ou sem Trump, é uma tendência que deve crescer. Basta observar que, com a conclusão da compra da CPFL pela chinesa State Grid, dois terços da rede de distribuição de energia elétrica no Rio Grande do Sul terá controle chinês. Melhor se habituar com essa ideia.
Com experiência de décadas em conversas multilaterais e bilaterais, Frederico Behrends, coordenador do Grupo Temático de Negociações Internacionais da Fiergs, avalia que existe até um fator benéfico, a curto prazo, para exportadores gaúchos: a alta do dólar que já começa a se desenhar com a eleição de Trump. Assim como a maioria dos pragmáticos, Behrends considera as "promessas" do presidente eleito dos EUA, como o muro na fronteira do México, "ameaça com a bainha da espada", ou seja, discurso eleitoral que vai esbarrar em dificuldades fáticas. O discurso da vitória já foi nesse tom. Melhor esperar que seja mantido.