Depois da reação negativa, mas branda, do day after da eleição de Donald Trump, o mercado teve nesta quinta-feira um dia de resultados piores, com bolsa recuando 3,25% e o dólar com a maior alta dos últimos oito anos, de 4,73%. O aprofundamento da inquietação veio com sinais de que alguns dos temores sobre Trump podem se confirmar: questionamento da independência do Federal Reserve e reforço de investimentos em infraestrutura sem responsabilidade fiscal.
– São sinais de que o juro nos EUA pode subir mais do que se esperava em 2017. O Risco Trump pode alongar a recessão no Brasil – adverte o ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas, um radical da cautela.
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O economista pondera que o resultado da eleição elevou os prêmios de risco, inclusive o do Brasil, e com isso, o país deve entrar em um período de volatilidade – altas e baixas abruptas – até que Trump deixe mais claras suas políticas fiscal e monetária. A partir das decisões, pode-se evoluir para estabilização ou para mais recessão.
– O quadro para o Brasil mudou, porque esse resultado não estava no nosso radar. Dependendo do que ocorrer nos EUA sob Trump, corremos até o risco de mais um ano de queda no PIB em 2017 – avalia Thadeu.
Tanto o dólar quanto a bolsa, explica o economista, estão sendo pressionados pela saída de investidores externos:
– Muitos têm medo de que a cotação chegue a R$ 3,50, então se apressam a sair antes disso.
Esse quadro cria uma situação de impasse para o BC. Dólar em alta eleva a inflação e pode reduzir o espaço para novos cortes de juro. Thadeu, que contava com redução de 0,5 ponto percentual na reunião do final deste mês, agora teme que só possa haver poda de 0,25 ponto. Ou nada. Se o processo de redução sofrer atraso, pode prolongar a recessão no Brasil.
Apesar de desenhar um cenário inquietante, Thadeu lembra que, para um Estado exportador como o Rio Grande do Sul, pode haver notícia boa embutida:
– Vocês podem ficar tranquilos, porque com o dólar mais alto as indústrias gaúchas podem exportar mais.