Poucas vezes uma ata sobre política monetária de banco central foi tão clara. Para preparar espíritos, bolsos e carteiras de investimento, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) avisou, nesta quarta-feira: o juro vai subir na próxima reunião do comitê de política monetária, marcada para 14 de dezembro. Diante do sinal, subiu a remuneração dos principais títulos americanos, os Treasuries.
Por aqui, indício forte de aumento de juro e da cotação de títulos americanos significa alta do dólar. Foi o que aconteceu. A moeda se valorizou mais de 1% em relação ao real e encostou em R$ 3,40, sem intervenção do Banco Central do Brasil, que, graças ao aviso antecipado do Fed aos investidores, terá tarefa facilitada na próxima semana, quando decidirá sobre a taxa de referência nacional. A expectativa de fechar o ano com Selic em 13,25% foi arquivada pela eleição de Donald Trump. Agora, se baixar de 14% ao ano, o mercado vai se dar por satisfeito. Analistas temem até que não haja corte.
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Embora uma nova elevação da taxa básica americana fosse esperada ainda neste ano, havia dúvidas sobre a concretização e o tamanho da medida. Agora, a incerteza se concentra apenas na última questão: quanto o juro americano vai subir. Nos próximos 20 dias que faltam até a data da decisão, Trump deve concluir a formação da equipe, com as definições que mais inquietam o mercado: os secretários do Tesouro (equivalente a ministro da Fazenda), do Comércio (comparável ao Desenvolvimento no Brasil) e de Estado (Relações Exteriores).
Mesmo sem essa explicitação, as projeções sobre a gestão Trump da economia convergem para maior crescimento do PIB americano – bom para eles –, maior inflação, maior dívida. A graduação dessas variáveis é que vai definir o tamanho do estrago nas projeções dos emergentes, como o Brasil. Até agora, o país que enfrenta dois anos de recessão pesada foi o segundo mais afetado pela eleição de Trump, atrás apenas do México, aquele que fica tão longe de Deus e tão perto dos EUA.