No papel, o esboço do que seria a agenda pós-impeachment do governo Temer faz sentido. Alguns dos enunciados – reequilíbrio fiscal, melhoria do ambiente de negócios, reformas, concessões, privatizações, modernização do Estado – respondem a pedidos de cidadãos e empresários e dialogam com o senso comum dos brasileiros. Como todos sabemos, Deus e o diabo habitam nos detalhes, que ainda não são conhecidos.
Embora os primeiros sinais do rumo da primeira das grandes reformas, a da Previdência, comecem a ser apontados, falta o mapa do trajeto. Apesar dos indícios de que o fundo do poço foi atingido, a jornada se deve mais ao movimento cíclico e à melhora nos índices de confiança do que propriamente a medidas consolidadas.
Enquanto espera o Congresso voltar do recesso de julho e encaminhar a votação, o governo adverte que, sem teto para despesas, terá de elevar tributos. Assim como precisa indicar para onde pretende conduzir o país, o governo tem necessidade de administrar o grau de exposição de seus principais porta-vozes. A alternância de versões começa a disseminar rumores de disputa de poder ou, ao menos, de visibilidade. É interessante ver o diálogo entre os ministros por meio de entrevistas. Diante das expectativas, o governo interino entregou pouco até agora.
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A euforia na bolsa descrita na reportagem especial de Caio Cigana contempla em parte a expectativa com o cumprimento dessa agenda. Outra parte é fruto de uma circunstância financeira: juro baixo ou negativo nos países desenvolvidos e muito alto no Brasil. Reduzir a taxa básica, aliás, será fundamental para entregar a recuperação tão esperada. A ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central que será divulgada hoje será essencial para perscrutar o cronograma dos cortes.