A forte alta da bolsa de valores nesta terça-feira, em dia de marasmo no noticiário econômico nacional, encaminha-se para ser o penúltimo embate da conturbada relação entre mercado financeiro e a presidente Dilma Rousseff. A reação animada na bolsa diante do enfraquecimento da presidente seguida de valorização do real ante o dólar se repete desde as eleições de 2014.
Analistas que antes não arriscariam prever o comportamento do câmbio no curtíssimo prazo, por exemplo, passaram a enxergar na crise política motivo para cravar projeções – nem sempre certas.
As reações positivas de investidores a quedas nas pesquisas de intenção de voto em 2014 e, atualmente, ao avanço do processo de impeachment deixaram evidente a desaprovação do setor financeiro à condução econômica de Dilma.
Economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito lembra que as rusgas são anteriores à erosão da economia. Recorda que, em maio de 2012, a presidente fez um discurso no qual acusou a “lógica perversa” do setor financeiro. A relação nunca melhorou, e o mercado financeiro virou oposição.
– O ex-presidente Lula era, na medida do possível, mais próximo ao mercado. Dilma inaugurou um processo de conflito. A deterioração da economia e as medidas erradas do governo só aumentaram a temperatura – destaca Perfeito.
A dúvida que ainda fica é sobre como será a relação com o governo Temer. O economista da Gradual, assim como parte do mercado, mantém um pé atrás.
– Até agora, só colocaram palavras na boca dele. Ele ainda não disse nada – afirma. – Só porque não é a Dilma, não quer dizer que vai ser melhor.