Entre o direito de defesa e discursos intermináveis em que ninguém – nem os próprios parlamentares – têm interesse, há uma grande distância. É preciso seguir os ritos e obedecer as regras, mas o comando do Legislativo não captou o senso de urgência na economia. Mais de 60 discursos de 15 minutos em um país com risco de dupla queda de 4% na economia, 11 milhões de desempregados, e empresas à beira da falência elevam a sensação de exasperação.
Para compensar o dia de ritmo lento, o agora iminente governo Temer deu um sinal positivo ao mercado: a provável escolha do economista Ilan Goldfajn para o Banco Central (BC). Ex-diretor do mesmo BC e atual economista-chefe do Itaú Unibanco, Goldfajn colheu quase unanimidade. Várias gerações de detentores de cargos na instituição saudaram o nome apontado. Carlos Thadeu de Freitas, diretor na década de 1980, considerou a provável indicação como “ótima notícia”.
Mais do que um técnico respeitado, diz Freitas, Ilan tem um atributo escasso no meio: poder de comunicação. Como a coluna já havia mencionado, diante do vazio aberto por um BC constrangido, o economista-chefe do Itaú Unibanco já fazia a tal da coordenação de expectativas, ou seja, aumentar a previsibilidade.
Para Freitas, o trabalho do BC é “90% comunicação e 10% modelos” – referindo-se aos modelos matemáticos de cruzamento de indicadores que a direção usa para projetar o futuro da economia. Basta voltar à origem da crise no Brasil – a queda na confiança – para dar crédito a essa versão.
No início de abril, contrastando com o discurso dominante, Ilan havia previsto redução no juro básico no segundo semestre. A posição lhe valeu o adjetivo “dovish”, jargão do mercado financeiro para defensores de juro baixo. Freitas rebate:
–Ele não é nem dovish nem hawkish (defensor de juro alto). É a pessoa certa no lugar certo e na hora certa.