Havia muita expectativa sobre o pronunciamento – que virou entrevista – da presidente Dilma Rousseff depois da aprovação da admissibilidade do impeachment na Câmara dos Deputados, mas o que mais surpreendeu, no final da tarde desta segunda-feira, foi a forma, não o conteúdo. Com palavras escolhidas – fortes para o vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, serenas para descrever a intenção de lutar para preservar o mandato –, Dilma não descartou medidas judiciais contra o impeachment, mas não sinalizou mudanças substanciais para as projeções de fácil aprovação do processo no Senado. Sobre economia, foi perguntada e respondeu sem muitos detalhes, acenando apenas com um vago “rearranjo do governo”.
Enquanto a presidente escolhe ao menos uma aparência de ponderação, crescem no país as projeções sobre um eventual governo Temer, com todas as reticências que o fato de faltar a legitimidade conferidas pelas urnas, até por parte de potenciais aliados. A consultoria GO Associados, cujo nome vem das iniciais de Gesner Oliveira, identificado com o PSDB que acena com apoio ao “governo de salvação nacional” esboçado pelo vice, pondera que o país precisa de um plano de travessia até 2018. E reproduz uma frase cada vez mais ouvida nos círculos econômicos: “o país não pode viver mais suspenso por tanto tempo”.
A coluna compartilha um conjunto de pontos listados pela consultoria porque são o resumo do que vêm manifestando, em diferentes fóruns, vários estratos de agentes econômicos, sem a pretensão de apresentá-los como um mapa definitivo, apenas como um apanhado para subsidiar o debate necessário sobre os próximos passos:
1 Reversão de expectativas: tentar criar um novo ambiente de negócios, ajudando a reverter o declínio dos investimentos.
2 Plano de emergência para o reequilíbrio fiscal, diante dos “números fiscais cada vez mais preocupantes” – expectativa de déficit superior a R$ 100 bilhões neste ano e estimativas do Ministério da Fazenda do impacto de R$ 313 bilhões no Tesouro com juro simples sobre dívida dos Estados.
3 Encontrar novas formas de mobilização do capital privado para ampliar recursos destinados à infraestrutura, para ajudar a destravar a retomada do crescimento.
4 Plano de longo prazo para ajustar as finanças públicas de forma permanente, com reformas na Previdência e outros setores que sejam graduais e palatáveis politicamente.
5 Consolidar e reforçar a legislação anticorrupção, assegurando a continuidade e independência da Operação Lava-Jato.6 Retomar e reforçar acordos comerciais com parceiros estratégicos, para estimular as vendas externas diante do esgotamento do ciclo de consumo na última década.