Depois da relativa calmaria de fevereiro, dentro e fora do Brasil, será novamente sob intensa tensão política que o Banco Central vai decidir, nesta quarta-feira, o que fazer com a taxa de juro no país. As novas fases da Operação Lava-Jato e seus desdobramentos – descobertas, substituições no ministério, delações – apertam o cerco sobre o Planalto e, com isso, elevam o nível de incerteza na economia.
Na insuspeita avaliação da consultoria GO Associados – que deve seu nome a Gesner Oliveira, que já formulou políticas econômicas em programas do PSDB –, a atual situação agrava “um cenário já extremamente desconfortável para a presidente Dilma Rousseff”. No entanto, observa que não será fácil sustentar, para a oposição e para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a tese da necessidade de impugnação da chapa que venceu as eleições em 2014 por conta da suspeita de que valores oriundos da corrupção na Petrobras teriam irrigado a campanha, pela via do marqueteiro João Santana.
Fernando Marcato, sócio da GO Associados, lembra que ainda é necessário comprovar que o dinheiro foi direcionado à campanha de Dilma e que esses recursos teriam servido para desequilibrar as eleições a favor da chapa eleita em 2014. Ao menos, para que o processo seja limpo.
Lembrando que as manifestações previstas para o dia 13 serão uma uma indicação sobre o grau de apoio popular que a tese do impeachment teria ganho com as mais recentes revelações da Operação Lava-Jato, Marcato acentua que a questão econômica continua a ser o principal fator de instabilidade do governo – embora até grandes empresários atribuam à instabilidade política o maior fator de desequilíbrio.
Depois de terem conseguido “se livrar” de Joaquim Levy e de José Eduardo Cardozo, os petistas agora dirigem seus canhões para o Banco Central. O Programa Nacional de Emergência divulgado pelo diretório nacional do PT no Rio de Janeiro, põe foco na redução do juro básico e na volta da CPMF, além de propor que reservas internacionais sejam utilizadas para um fundo destinado a obras de infraestrutura e reajuste nos valores do Bolsa Família.
Não é apenas um dilema teórico que cerca a decisão de hoje do Comitê de Política Monetária do BC. Está em jogo, outra vez, o próprio destino do atual governo. Novos erros na condução da economia podem selar a abreviação do mandato, acossado por acusações, endividamento crescente, falta de recursos para investimento, queda na arrecadação e, acima de tudo, a assustadora perspectiva de ao menos dois anos de queda acentuada no PIB, condição inédita na história recente.