Depois de intensa volatilidade, a bolsa fechou em alta e o dólar, em baixa, no dia da confirmação de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil. Teve gente que não entendeu, uma vez que o mercado, na véspera, havia desabado com o reforço dessa mesma hipótese. Os operadores se refugiaram nos rumores de indicação do ex-presidente Henrique Meirelles para um cargo no governo – que poderia ser o Banco Central (BC) ou até o Ministério da Fazenda – e na decisão do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos (EUA), que manteve o juro e deu sinais de que a elevação, ao longo do ano, será ainda mais moderada do que se esperava.
Mas mal mesas de câmbio e de corretores haviam fechado, outro foco de preocupação surgiu, com a divulgação de gravações de conversas telefônicas entre Lula e a presidente Dilma Rousseff. Protestos em frente ao Palácio do Planalto e na Avenida Paulista arremataram com tensão um dia que já havia sido delicado. Outra vez, como há tempos não se via, o dia foi coalhado de boatos, especialmente sobre a saída de Alexandre Tombini do BC e supostas medidas econômicas que seriam adotadas pelo governo.
Dilma tentou transmitir alguma tranquilidade no final da tarde, afirmando que Lula tem “compromisso com estabilidade fiscal e controle da inflação”. Ou foi coincidência, ou algum efeito teve, porque a bolsa, que já subia, mas abaixo de 1%, engatou alta mais firme depois disso, para fechar em alta de 1,34%. Se parecia possível alguma trégua, com expectativa sobre eventuais correções de rumo na economia, com a consequente distensão no quadro político, o final do dia de ontem parece ter eliminado essa hipótese.
Pontes podem ser reconstruídas, situações inexplicáveis podem ganhar versões mais palatáveis, mas a divulgação das gravações abriu dois novos flancos na batalha pelo governo. Uma no Judiciário, entre os que agora acusam abertamente o Planalto de usar a nomeação de Lula para o ministério para impedir a prisão do ex-presidente, e os que apontam excessos nas gravações de diálogos envolvendo a presidente da República. Outra, nas ruas. Se não houver resposta adequada, é possível que as manifestações vistas em Brasília, São Paulo, Porto Alegre e outras cidades ganhem corpo e se repitam. Cada vez mais, com desfecho imprevisível.