Da série promessas de campanha... ficam na campanha: Mauricio Macri, presidente eleito da Argentina, passou os últimos meses anunciando que, vitorioso, levantaria o cepo cambiario conjunto de restrições à compra de dólares no sistema oficial. Ontem, os jornais argentinos publicaram entrevista em que seu futuro ministro de Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, avisa: as restrições terminarão... no momento em que houver dólares suficientes.
Quando isso pode ocorrer, avisou Prat-Gay, ainda não se sabe. Em mais de uma oportunidade, Macri afirmou que o "cepo" acabaria no dia seguinte à sua posse, marcada para esta quinta-feira. O futuro ministro confirmou, porém, que a ambição do novo governo é unificar as cotações - hoje existem a oficial, a que quase ninguém tem acesso -, e a paralela, chamada por lá de "blue". Antes de tudo, a nova equipe conta com a apresentação da renúncia do atual presidente do Banco Central, Alejandro Vanoli, que tem mandato aprovado pelo Senado argentino até 2019.
O governo que sai e o que entra não acertam o passo nem para o tango da transmissão de cargo: Cristina Kirchner quer fazer no Congresso, Macri exige que seja na Casa Rosada. Além de Vanoli, outros com mandato autônomo resistem a renunciar, como o comandante da Afip (o fisco argentino), Ricardo Echegaray.
E enquanto o Indec (equivalente ao IBGE) não recupera a credibilidade - é acusado de maquiar a inflação -, o governo Macri terá seu próprio índice de preços. Será um dos elementos considerados para pautar o acordo que o novo governo pretende fazer em janeiro sobre salários e preços, depois de observar os primeiros impactos do que, nos gabinetes, é chamado de "unificação do câmbio" e, nas ruas, já ganhou o apelido de "máxi de Macri" - referência à maxidesvalorização do peso. Além de não contar com turismo hermano no verão, os brasileiros deverão ser afetados pela freada nas importações à Argentina. O que antes não entrava lá por conta de restrições burocráticas vai deixar de entrar por que ficará caro em dólares.