A queda do PIB não era inesperada para ninguém que tenha mantido os olhos abertos no terceiro trimestre. Os dados negativos da indústria, do comércio e do mercado de trabalho, e as recorrentes nuvens de tensão política vindas de Brasília tornavam impossível projetar algo diferente. Ainda assim, a retração de 1,7% entre julho e setembro supreendeu analistas, levando a revisões das expectativas para o resultado final do ano de janeiro a setembro, o encolhimento chega a 3,2%.
Não só por indicar que o fundo do poço ainda não está à vista, os números do IBGE mostram uma economia fragilizada em áreas essenciais para engatar uma eventual retomada. É o caso dos investimentos, representados no cálculo do PIB pelo indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).
Em relação ao período entre abril a junho - quando o país já enfrentava turbulência -, a redução dos investimentos foi de 4%, emendando nove trimestres de retração. Quando a comparação é com o mesmo período de 2014, a queda chega a assustadores 15%.
A desconfiança, reforçada nos últimos dias pelos desdobramentos da Lava-Jato, tem levado os empresários a reduzir projetos e aumentar cortes - há quem siga apostando no país, com cautela. Nesse cenário, ocorre o aumento do desemprego, que ronda os 8%.
Com menos gente empregada e recebendo salário, cai o consumo das famílias e o faturamento das empresas. É a retroalimentação da crise. Para quebrar o círculo, o Planalto, responsável pelo único número "positivo" de ontem - os gastos do governo aumentaram 0,3% -, precisa mostrar que há possibilidade de um horizonte menos turbulento.