Antes tarde do que nunca, o STF vai descriminalizar o usuário de maconha. É correto, pois até agora misturamos problema de saúde com problema de polícia. Castigar o usuário - aliás, só os pobres, pois com bom advogado e contatos não dá nada - apenas entope presídios com não criminosos que podem tornar-se um.
Pessoalmente, não creio que a maconha seja uma droga menos perigosa. Ela pode desencadear psicoses, pensamentos paranoicos transitórios e crises de pânico em indivíduos propensos; ela traz problemas cognitivos e aumenta problemas de atenção. Além disso, pode anestesiar a angústia boa, aquela que nos faz dar um basta a certos comportamentos, permitindo mudar o rumo na vida. Meu conselho é: fique longe dela.
Uma questão a pensar: por que tantos de nós - incluindo o álcool e drogas lícitas- usam lenitivos para levar a vida?
Uma questão a pensar: por que tantos de nós - incluindo o álcool e drogas lícitas- usam lenitivos para levar a vida? O uso e abuso de álcool é tão endêmico quanto o da maconha. Aliás, o consumo de álcool é mais destrutivo e oferece mais riscos, a si e aos outros, do que o da maconha. Não seria a sociedade competitiva, impessoal, apressada e consumista que criamos, a razão para que tantos não consigam levar a vida sem drogar-se?
É autoevidente que a maioria das pessoas que usam álcool não destruíram sua vida por causa dele. O mesmo vale para a maconha, enquanto uns embotaram a vida, existem outros que fumaram durante longos períodos - alguns da adolescência até a terceira idade - sem que suas vidas sejam essencialmente diferentes das dos abstêmios. Entre estes usuários estão pessoas bem sucedidas, cuja vida, para quem vê de fora, é exemplar. Este dado não é transparente porque ninguém quer expor-se e ser alvo de represálias. Mas, para quem escuta a vida secreta das pessoas, é um fato. Estes encontram um uso moderado recreativo não prejudicial.
O motivo central da proibição das drogas e da maconha é outro: seu uso evidencia que a felicidade é uma promessa que não se cumpre, então resta o prazer artificial. É aqui que entra o invejoso em pele de moralista, seu raciocínio oculto, até para si, é: "essas pessoas tomam um atalho ao prazer que não tenho. Na contabilidade do prazer estou sendo passado para trás". Diga-se, este prazer extra existe mais na cabeça dos julgadores do que na realidade. É o mesmo raciocínio dos fiscais de bunda alheia, supõem um gozo a mais no sexo não convencional. Pagamos todos pela frigidez existencial de alguns.