Se você é como eu, já sentiu culpa alguma vez na vida porque tem preguiça de alongar antes de correr. Como eu nunca faço e até hoje nada de muito grave aconteceu, esse fardo foi passando, mas a curiosidade sempre existiu. Afinal, precisa ou não alongar antes de disparar por aí?
Quem me ajudou a acabar com essa dúvida foi o chefe do Serviço de Traumatologia e Ortopedia do Hospital Mãe de Deus, Paulo Piccoli. Com atuação também em traumatologia do esporte, ele conta que, atualmente, após uma revisão de conceitos na área, o alongamento pré-atividade física não tem sido mais considerado necessário. Alguns especialistas chegam até mesmo a apontar que pode prejudicar o rendimento, o que não é uma unanimidade entre pesquisadores, mas já é sabido que não tem uma atuação relevante na prevenção de lesões.
O alongamento, quando praticado com frequência e sem ser acompanhado de alguma atividade física logo após, é sempre indicado, pois existem efeitos benéficos. É algo que, acredito eu, todo mundo deveria fazer, pois resulta em um corpo com maior mobilidade e flexibilidade. A frequência, defendem alguns fisioterapeutas, pode ser de até duas sessões por semana. Com isso, os bons efeitos podem logo ser sentidos, não apenas em um maior rendimento no esporte, mas na mobilidade diária. Minha mãe, de 82 anos, faz e adora.
E no pós-treino, o que é aconselhado? Essa é a segunda dúvida de muitos corredores amadores. O ortopedista e traumatologista afirma que o alongamento não deve ser dispensado neste momento.
– Alongamento ao final é essencial para que as fibras musculares não percam a elasticidade. Também serve para reduzir aquela dor pós-corrida – ressalta Piccoli.
Os músculos que não podem ser esquecidos nessa fase são os da lombar, das partes anterior e posterior das coxas, os adutores, os glúteos e a panturrilha.
O assunto, obviamente, já gerou algumas polêmicas. Alguns especialistas dizem que, mesmo após a prática física, é preciso cuidados com a maneira como proceder. Depois de feito um exercício que cause uma intensa fadiga, é indicado esperar um pouco para, então, fazer o alongamento. Em atividades extenuantes como maratonas, por exemplo, uma massagem muscular antes dessa etapa pode ser indicada.
Como o inverno chegou e algumas ondas de frio estão previstas até ele findar, para deixar longe mesmo o medo e o risco de se lesionar, Piccoli explica que é preciso evitar as perdas de calor pelo organismo. Para isso, um aquecimento prévio deve ser feito. É sempre indicado, mas mais importante ainda em baixa temperatura. Alguns até chamam de alongamento em movimento e, no caso da corrida, um trote ou caminhada inicial de cinco minutos já pode ajudar, mas o especialista também aponta para a importância dos equipamentos utilizados. Além de um bom tênis, com amortecedor, necessário em qualquer época do ano, em períodos mais frios é preciso estar atento ao uso de roupas que não auxiliem na perda de calor pelos músculos. Correr de camiseta de física quando está muito frio, por exemplo, deve ficar fora de cogitação.
Mas não aproveite o inverno para usar o medo das lesões como desculpa para ficar parado. Dizem por aí que se exercitar no frio até queima mais calorias. Mas aí já é tópico para outra coluna.