Eu era muito pequenino, fazia karatê e o meu primeiro mestre falou algo que guardei para sempre quando a primeira medalha apareceu no meu pescoço depois de um torneio interno:
— Olhe para baixo.
Fui pego de surpresa. Inclinei o corpo pra baixo para a medalha encaixar mais fácil na cabeça. Levantei o corpo, olhei pra ele, cumprimentei a mão e ouvi dele:
— Olhe pra baixo...
A dúvida persistia. Por quê? Mas um mestre nunca deixa um menino sem resposta.
— Olhe pra baixo e veja a sua medalha. Olhe para baixo e veja o seu esforço. Olhe pra baixo para reverenciar os que te ensinam.
Ele repetiu. Pra cada medalhista. Por isso decorei. Todos os meninos e meninas medalhistas ouviram isso. A gente até ria da repetição, mas ele se mantinha sério... Mas sereno.
Aí, uns quase 40 anos depois, um algoritmo qualquer me joga na cara um vídeo: procura aí. Boxer Claressa Shields, Londres, 2012, norte-americana. Ela recebendo a sua medalha de ouro. Ela é uma superatleta. Ganhou mundiais, ouro em outra Olimpíada...
Achou? Esse mesmo, dela namorando aquela peça dourada ali. Mas veja como ela olha pra baixo. Porque ela não para de namorar aquele pedacinho de metal ali... Ela tenta encarar o céu, tenta enxergar outras pessoas, mas é na medalha que ela enxerga a pura felicidade...
Deixa o vídeo no repeat e eu no cantinho aqui...
Todo esportista vencedor, todo ganhador, naquele momento ali, ó, precisa olhar pra baixo. Precisa se curvar. A medalha se impõe. Porque toda medalha é um esforço tremendo, uma vida entregue, muita dor, poucos momentos com amigos, família... Anos de treino, de categoria, de aperfeiçoamento...
E pra ser tudo isso... Há de se ter humildade... É tipo ser o melhor do mundo e ainda ouvir o treinador, a treinadora... É continuar aprendendo... É, afinal, para poucos...
Que grande “sorte” é encontrar alguém que te ensine...
Que grande invenção é esse troço chamado medalha...