Escrevo este texto em Santana do Livramento. Quarto 307. Na cama, com seus 91 anos, Dona Nair, uma doble chapa uruguaio-brasileira, mal consegue falar. Quer ir para casa, mas não pode. Ela está muito velhinha, fraca. Criou um monte de filhos, ajudou todo mundo, netos a amam – e somos muitos aqui na Santa Casa da cidade da Fronteira Oeste.
Vivi todos os meus 38 anos longe da vó Nair. Nunca dividi uma cidade com ela. Sempre longe. Visitas esporádicas, algumas vezes ao ano, quase sempre no Natal. Ela chorou ao me ver. Falou meu nome, agradeceu que atravessei o Rio Grande para vê-la.
– Mas, vó?! Não fiz mais que minha obrigação.
Lamento as vezes que optei por trabalhar, fazer outras coisas, e não a coloquei como prioridade. Deveria ter a abraçado muito mais, rido ao lado dela muito mais ou só ter ficado na sala, ao lado, calmo e sereno, como todo ambiente com avós é.
Esta coluna em GaúchaZH é uma coluna de dicas. A principal que posso passar é uma que vocês já sabem, mas também não fazem: vamos ao encontro desses amáveis, rabugentos, divertidos, experientes e fantásticos velhinhos. Eles são a raiz, a sabedoria que só a vivência traz. O jeito mais lindo de entender o mundo.
Olhando nos meus olhos, segurando a minha mão, ela, enferma, cansada, pedindo para "ir embora", teve forças para lamentar algo:
– Luciano: eu não vou conhecer o teu filho...
Federico nasce em março. Não sei se a vó Nair vai conhecê-lo, mesmo. Mas ele vai ouvir histórias lindas da vó Nair. Talvez seja exatamente isso que você precisa nesse final de semana. Abraçar seus avós.