Na próxima semana, o mundo Fifa volta a ferver com a retomada das Eliminatórias. No final de março, a Europa decidirá os últimos três representantes no Catar. Porém, em pontos do continente, alguns deles dentro de países envolvidos nas decisões, alguns povos não estarão preocupados com isso.
Estarão, isso sim, de olho na Conifa Euro. A Conifa é a Fifa dos estados independentes ou de grupos que buscam reconhecimento internacional.
A coluna, através do perfil @FCGeopolitics (recomendo), teve acesso a esse mundo extra-Fifa e ONU. A Conifa já organizou duas Copas do Mundo, desde 2014. Na Euro de junho, serão 12 participantes. Confira os grupos.
GRUPO A
Condado de Nice - São os anfitriões. É uma região que circunda Nice, no sul da França. Esteve sob controle do estado Sardo-Piemontês entre 1388 e 1869, quando foi anexada pela França. Tem um idioma próprio, o nicard, que está ameaçado de desaparecer. A seleção foi a primeira campeã mundial da Conifa. Até a Copa, nunca havia disputado uma partida.
Duas Sicílias - É um reino que existiu entre 1816 e 1861, quando foi criado o reino da Itália. Antes da Revolução Francesa e no período subsequente às campanhas napeolônicas, a dinastia dos Bourbons foi quem reinou por lá. Aqui, há uma razão para torcermos por ela. A imperatriz Teresa Cristina era herdeira da dinastia dos Bourbons que mandavam lá nas duas Sicílias. Em 1864, aos 21 anos, ela trocou Nápoles pelo Rio, depois de casar por procuração com Dom Pedro II, que era seu primo. Viveu aqui até a proclamação da República, em 1889.
Sardenha - É a segunda maior ilha do Mediterrâneo, depois da Sicília e à frente do Chipre. Tem hoje como capital Cagliari, casa do clube homônimo e de onde acaba de vir o zagueiro uruguaio Godín para o Atlético-MG. O idioma sardenho e outros minoritários, como o sassarese e o corso galurese, são reconhecidos como oficiais por leis regionais.
GRUPO B
Abkhazia - É um daqueles territórios conflagrados e envolvidos nas disputas entre a Rússia e as repúblicas soviéticas. Situada às margens do Mar Negro e bordejada pelas montanhas geladas do Cáucaso, já foi o destino de férias dos grandes líderes do Partido Comunista no período soviético. Em 1993, a Abkhazia entrou em guerra pela independência da Geórgia. Declarou-a em 1999. Em 2008, no conflito entre Geórgia e Rússia, Moscou reconheceu sua autonomia. A Geórgia classificou-a como território ocupado por russos. Além de Moscou, Nicarágua e Venezuela reconhecem sua independência.
Lapônia - Sim, é a terra do Papai Noel. É de lá que ele parte para entregar seus presentes. Não há registros de que seja o técnico da seleção. Brincadeiras à parte, a Lapônia (ou Sapmi) é um território que se espraia por Noruega, Suécia, Rússia e Finlândia. O idioma e a cultura sami, único povo indígena europeu e que forma a população da Lapônia, são preservados. Na Finlândia, inclusive, o governo inaugurou 2012, um novo prédio para abrigar o parlamento sami no norte do país. De lá, é possível contemplar a aurora boreal.
Székely Land - Está situada no leste da Transilvânia, estado romeno que, aqui, ficou conhecido como terra do Conde Drácula, graças à obra de Bram Stoker, publicada em 1897. A população da Székely Land é formada basicamente por hpungaros. Estima-se que seja de 1,5 milhão. Eles reivindicam reconhecimento pelo governo romeno e participação maior na sociedade na Transilvânia, o território mais rico do país.
Grupo C
Ossétia do Sul - É outro fruto do desmembramento da União Soviética ainda pendente. Situada no norte da Geórgia, declarou-se independente em 1992. Porém, nunca foi reconhecida. A não ser pela Rússia, depois do conflito de 2008. Assim como a Abkhazia, só reconhecida por Moscou, Nicarágua, Venezuela e outras nações menores, como Tuvalu. A Ossétia, no entanto, se gere como um estado independente e tem até sua federação de futebol.
Artsakh - É um estado independente no Cáucaso, entre a Armênia e o Azerbaijão. Porém, vive em constante tensão com os azerbaijanos. Em novembro de 2020, houve nova investida sobre o território de Artsakh. A independência é buscada desde 1992, quando Armênia e Azerbaijão deixaram a União Soviética. Os armênios da região caucasiana viram ali a chance de também se tornarem independentes. Porém, como a região é rica em gás e petróleo, o Azerbaijão reluta em perdê-la. Rússia e Turquia também entram nessa disputa. Ou seja, Artsakh só existirá, mesmo, na Conifa.
Cornwell - Em português, é Cornualha. Está situada numa península no sudoeste da Inglaterra, tendo como limite ao Sul o Canal da Mancha, que separa ingleses e franceses. Tem uma população estimada em 534,3 mil. É considerada uma das seis nações célticas e tem idioma próprio. Em 2014, a Convenção do Conselho da Europa reconheceu a Cornualha como minoria nacional, o que fez Londres reconhecê-la da mesma forma que faz com Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia, outras três nações célticas do Reino Unido.
Grupo D
Padania - Está localizada no norte da Itália. É uma região com forte pensamento separatista e que leva esse nome por causa do Vale do Rio Pó, embora se estenda além dele. O movimento foi criado e liderado pela Liga do Norte, partido de extrema direita. Estão nesse guarda-chuva 11 regiões, algumas bem importantes, como Piemonte, Vêneto, Lombardia, Toscana e Umbria. O craque da seleção da Padania é Enoch Balotelli, irmão do ex-astro da seleção italiana.
Armênia Ocidental - Assim como Artsakh, é uma porção da Armênia que está sob domínio de outro país, no caso a Turquia. No começo do século passado, a Armênia Ocidental foi palco de um massacre. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas tenham sido mortas pelo governo turco na invasão à Armênia. Além disso, relíquias com mais de 3 mil anos de história foram destruídas.
Chameria - Está localizada no sul da Albânia, na região costeira de Epiros, que também se estende à Grécia. A população cham está espalhada entre os dois países. Eles são bons de bola. Em 2017, venceram a Copa de Nações Não-Representadas.