Em agosto, Marçal estava na linha de três zagueiros do Lyon que tentava parar a máquina de fazer gols do Bayern. Nada que o assustasse. Marçal, pode-se dizer, saiu do zero até o topo por nunca desistir. Em 2009, aos 20 anos, recebeu do Grêmio o comunicado de que estava fora dos planos. Foram três anos na base e conquistas, como titular, da Taça BH e do Brasileirão Sub-20 em 2008 . O time treinado por Julinho Camargo tinha como estrela Douglas Costa, que esteve só no primeiro título, e outros nomes que acabaram se estabelecendo, como o zagueiro Wagner, atualmente no São José, Roberson, hoje no Cruzeiro, e uma dupla de Rafaéis no ataque, o Martins e o Paraíba, que depois virou Pilões e rodou o Interior. No título do Brasileirão, surgiu Mithyuê, que acabou mais tarde voltando ao futsal.
O fato é que depois disso tudo, Marçal ficou sem emprego e sem rumo no começo e 2009. O Grêmio trocou a gestão, Rodrigo Caetano saiu e quem chegou promoveu uma reformulação. O lateral topou jogar a Série A-2 pelo Guaratinguetá.
Um ano depois, de volta a Porto Alegre e sem clube, estava tão no desvio que topou o convite para uma pelada em grama sintética. Lá encontrou Juninho Botelho, meia surgido no Grêmio. Ali, a vida de Marçal mudou.
— Um empresário de Fortaleza me disse que em Portugal estão precisando de um lateral-esquerdo. Não quer tentar? Me passa um DVD com teus lances — sugeriu Botelho, em diálogo relatado pelo lateral em entrevista à ESPN.
O problema é que Marçal nem DVD tinha. Naquela noite, ele se socorreu ao cunhado, um gerente da Caixa Federal, que tinha domínio de edição de vídeos no computador. Vararam a madrugada e fizeram um compilado com os poucos lances que tinha gravados. Os portugueses precisavam mesmo de lateral. Tanto que, no final da tarde seguinte, veio a confirmação o interesse. Mas seria para jogar a Segunda Divisão e, como teria de morar na concentração, não podia levar a mulher e o filho, de sete meses. Topou. Quando chegou ao Torreense, soube que não era a Segunda, mas a Terceira Divisão. Lembra que, ao dizer no clube que planejava fazer dali um passo para grandes clubes, provocou risos. A realidade do Torreense era muito distante para saltos maiores.
Marçal ignorou o deboche e trabalhou. Na temporada seguinte, já estava no Nacional, da Ilha da Madeira. Na metade de 2015/2016, o Benfica o comprou. Ele concedeu entrevistas saudando que trabalharia com Jorge Jesus. Só que, ao final da temporada, Jesus foi para o rival Sporting, e as declarações custaram o preço da indiferença no Benfica. Tanto que nem jogou. Foi emprestado ao Gaziantepspor-TUR e depois ao Guingamp. Foi bem na França, tanto que o Lyon o comprou em 2017. Na Liga dos Campeões 2018/2019, enfrentou o Barcelona como terceiro zagueiro. Saiu-se bem e acabou fixado ali. Por isso, o Wolverhampton pagou 2 milhões de euros por ele neste verão. O lateral dispensado sem jogar no Grêmio, agora, disputará a Premier League. Ah, pela negociação, o Grêmio terá direito a cerca de R$ 200 mil, pelo mecanismo de solidariedade. Poderia ser bem mais, se alguém tivesse olhado Marçal com mais calma.