Há matizes de epopeia na presença do São Luiz entre os quatro melhores do Gauchão. Porque só movido pela bravura um clube isolado em um raio de 300 quilômetros consegue colocar sua bandeira no mapa do futebol. Corte o Rio Grande do Sul e você verá que Ijuí é a única representante da metade de cima na elite. O custo disso é alto. Muito alto.
A trajetória do São Luiz serve para escancarar o quanto está superado o modelo atual de subsistência dos clubes do Interior. Hoje, eles dependem quase que exclusivamente da cota da TV. Poucos ainda sobrevivem. Quase sempre sem um apoio efetivo do empresariado local. No caso do ilustre e orgulhoso time de Ijuí, as portas só estão abertas por teimosia de seus dirigentes e pelos ventos favoráveis do destino. Em 2017, definhava depois de duas temporadas na Divisão de Acesso. Seus dirigentes se reuniram e decretaram: ou o clube subia ou fechava. Subiu e evitou o sumidouro que já havia sugado clubes de tradição, como o vizinho Guarany, de Cruz Alta.
Disputar o Gauchão, para o São Luiz, é um desafio à lógica. Para chegar até este domingo especial e histórico, contra o Grêmio, o clube viajou 6 mil quilômetros. Singrou o Estado empoleirado em um ônibus todas as semanas. Suas viagens mais curtas seriam até Santa Cruz do Sul, 250 quilômetros, e Veranópolis, 300 quilômetros. Só que esses dois jogos foram em casa. Sobrou para o São Luiz esticar duas vezes até Pelotas. Como a direção decidiu se concentrar em Rio Grande, foram 2,1 mil quilômetros para duas partidas. Em resumo, 10 horas para vir e mais 10 horas para voltar. Como ir duas vezes à Europa de avião.
A geografia é um desafio extra para os dirigentes. Não só pela logística. Na hora de contratar, nem o salário mais alto convence o jogador. Muitas vezes, conta o gerente de futebol Delmar Blatt, ele prefere ganhar menos na Região Metropolitana para ficar mais próximo de shopping, do aeroporto e, é claro, da mídia da Capital.
Delmar começou a montar em agosto o grupo atual. Contratou de forma criteriosa, passou horas ao telefone. Trouxe gente de todos os lados. O zagueiro pernambucano João Marcus, por exemplo, estava no Acre. O lateral Jheferson Falcão, no Krymteplysia, da Ucrânia. O zagueiro Betão, no Tampico, do México. O atacante Leílson, no Iguatu-CE.
Mais do que topar morar longe da Capital, esses jogadores tiveram de se enquadrar nos padrões salariais. A folha é de pouco menos de R$ 200 mil mensais. Um mês de Tardelli no Grêmio bancaria o Gauchão inteiro do rival desta noite. O que só eleva a campanha do São Luiz e a coragem dos seus dirigentes. Não fosse por eles, este seria um domingo qualquer em Ijuí e em toda a metade norte do Rio Grande do Sul. Mudar essa história é mesmo uma epopeia.