O Leão do Vale do Ivaí usa o modelo de gestão que faz de Cianorte a Capital do Vestuário para sonhar com um lugar ao sol na Série B. Fundado em 2002, o adversário do Inter na terceira fase da Copa do Brasil vive seus melhores dias. Nem mesmo aquela vitória de 3 a 0 sobre o Corinthians de Tévez e da MSI na Copa do Brasil 2005 se aproximam do otimismo de agora.
A diferença é que, neste momento, o Cianorte F.C. caminha firme embalado por uma administração espelhada num dos maiores grupos da indústria do vestuário no Brasil. Lucas Franzato, 32 anos, é herdeiro do Morena Rosa, um grupo que fabrica 400 mil peças de roupas ao mês e exporta para 12 países. Ele sucedeu o pai na gestão do clube, caiu para a Segundona paranaense e voltou de forma invicta em 2016. No ano seguinte, foi semifinalista na elite e, neste ano, já deixou ABC e Criciúma pelo caminho.
O Inter representa um desafio gigantesco. Depois de perder por 2 a 0 no Beira-Rio, o time decidirá no Albinão, um alçapão para 2,5 mil lugar e onde o time não perde há 30 meses. A seguir, confira quem é o Cianorte em sete toques.
O clube e a moda
Pode-se dizer que o Cianorte é o clube conectado à indústria da moda. A cidade é conhecida no Paraná como a Capital do Vestuário. Hoje, metade da sua economia é movimentada pelas indústrias do setor e pelos três shoppings centers abarrotados de lojas que atendem a atacadistas _ o que o coloca no topo do ranking brasileiro nesse setor. O ressurgimento do Cianorte, no início desta década, está ligado à indústria da moda. O empresário Marcos Franzato, fundador da Morena Rosa, assumiu o comando e mobilizou o empresariado da cidade (hoje, empresas como o frigorífico Avenorte, e a Ciapetro, distribuidora de combustíveis, pagam mesada ao clube). A própria Morena Rosa é um case de sucesso. Fundada em 1993, produz hoje 400 mil peças/mês de variadas marcas e, além do mercado brasileiro, exporta para 12 países. Em 2014, Marcos passou o comando do Cianorte para o filho, Lucas, hoje com 32 anos.
Henrique Dourado
A vida do goleador do último Brasileirão começou a mudar em Cianorte. Em 2012, o clube foi buscá-lo no interior paulista. Dourado havia rodado por clubes como Guarulhos, Lemense e União São João, sem muito brilho. Até que acabou como goleador do Paranaense e da Série D. O Cianorte, comandado por Paulo Turra, só caiu nas quartas de final, nos pênaltis, para o Mogi Mirim, à época sob o comando de Guto Ferreira. No ano seguinte, Dourado foi para o Mogi Mirim, depois para Santos, Portuguesa, Palmeiras, Cruzeiro e Portugal, até estourar no Fluminense.
O gramado
O presidente Lucas Franzato confirmou o jogo da volta contra o Inter em Cianorte. Ou seja, neste momento, o Inter terá mesmo de viajar até o noroeste paranaense e encarar o alçapão que é o Albino Turbay. O estádio tem capacidade para 2,5 mil torcedores, e Franzato pretende instalar arquibancadas móveis para receber 4 mil pessoas. A decisão de mandar a partida em Cianorte tem duas razões. A primeira é premiar a torcida, cujo apoio ao clube é sistemático e costuma criar um ambiente desfavorável aos visitantes. A segunda é que o time está invicto há dois anos e meio em sua casa. O Inter deve se preparar para encarar um caldeirão e também um gramado um tanto irregular. A grama é de jardim e sua troca é reivindicação antiga do clube à prefeitura, dona do estádio.
Fernando Carvalho
O presidente campeão do mundo pelo Inter terá de torcer de forma comedida no Beira-Rio. Afinal, receberá em Porto Alegre o clube para o qual presta consultoria. Desde 2016, Carvalho atua como espécie de conselheiro do presidente Lucas Franzato. Em fevereiro de 2016, sua visita à sede do Cianorte virou até notícia no jornal da cidade. Na época, o clube planejou a contratação de Elder Granja como uma ação de marketing. Pretendia unir o sobrenome do lateral-direito com o nome de um dos patrocinadores, a Avenorte. Foi Carvalho quem fez a ponte, repassando o telefone de Granja para Franzato. O jogador desembarcou em Cianorte com parte do salário bancada pelo frigorífico e ajudou o time a subir no Paranaense. Também colocou-o em evidência. O trocadilho Granja/Avenorte virou notícia no Paraná.
Escola de técnicos
O Cianorte esteve no começo da caminhada de alguns técnicos que se tornaram conhecidos no futebol brasileiro. Caio Júnior, uma das vítimas da tragédia da Chapecoense, trabalhou no clube entre 2003 e 2004, logo depois de deixar o Paraná, seu primeiro time como treinador. Gilson Kleina comandou o Cianorte em 2005, em seu terceiro ano de carreira. Luiz Carlos Winck, quando decidiu encerrar seu périplo pelo Norte e pelo Nordeste, fez escala no clube antes de regressar ao mercado gaúcho. O Cianorte, aliás, tem como tradição apostar em técnicos gaúchos. Paulo Turra comandou a equipe em 2012 e voltou em 2016, para ganhar de forma invicta a Segundona paranaense. Ele saiu no início de 2017, para ser auxiliar de Felipão na China, mas deixou seu auxiliar, Marcelo Caranhato, um paranaense de Cascavel, mas com trajetória no Rio Grande do Sul. Foi auxiliar no Caxias e comandou Glória, Brasil-Far e União Frederiquense e Veranópolis.
O Barcelona dos pequenos
Paulo Turra fala sem hesitar: hoje, "o Cianorte é o Barcelona dos clubes pequenos", que buscam dias melhores nas Séries C e D do Brasileirão. Os salários nunca atrasam. A gestão é feita pelo presidente Lucas Franzato, pelo diretor O ambiente para trabalhar é excelente, com apoio irrestrito de uma cidade de economia pujante e envolvida com o clube. Um CT está em fase de construção, e o sucesso do time abre perspectiva de investimento da prefeitura para melhorar o estádio. Os jogadores que chegam acabam criando vínculo e só saem para clubes maiores, dificilmente trocam por outro do mesmo tamanho.
– O clube paga religiosamente em dia, é organizado, bem gerenciado. Para ter ideia do que oferece, o Cianorte tem ônibus próprio e, para os solteiros, mantém uma casa com piscina, área de lazer e dormitórios com apenas dois ou três jogadores – conta Turra.
O time
O volante Richarlyson, 35 anos, é o grande nome do Cianorte. Ele chegou em janeiro, para dar visibilidade a uma equipe cuja base é mantida desde 2016, quando conquistou o acesso na Segundona paranaense. Daquele grupo, oito jogadores permanecem. Três deles são titulares, o goleiro João Gabriel e os volantes Jovane e Sidnei. O atacante André Luiz, que disputou a Série B pelo Santa Cruz, foi um dos reforços para essa temporada. Alguns nomes são conhecidos no mercado gaúcho, caso dos meias Rafael Xavier e Rafael Carrilho, ambos lançados no São José e rodados pelo nosso Interior. Há um argentino no time. O lateral-esquerdo Osvaldo Arroyo veio do Colón nesta temporada.