Esses dias, um amigo confidenciou-me uma história curiosa sobre uma estagiária que começara a trabalhar em um escritório de advocacia. Logo no primeiro dia, deixou seu casaco na cadeira e foi apresentada aos colegas. Após ouvir atentamente suas atribuições, surpreendeu a todos: menos de três horas depois, pediu licença para ir à farmácia e nunca mais voltou. Nem o casaco pegou. O que a levou a tomar tal decisão? O choque com as obrigações da função, supõem seus colegas.
Não estou aqui para julgar, desconheço os detalhes. No entanto, a forma como a Geração Z encara o trabalho provoca reflexões. Para alguns, é "muita frescura". Para outros, é "saber impor limites". Essa geração tem se desapegado de empregos específicos.
Nos últimos anos, vimos crescer os debates em torno dos desafios das atividades profissionais que levam ao adoecimento. O termo burnout, por exemplo, tornou-se familiar ao descrever o esgotamento causado por extrema pressão no trabalho, podendo levar ao afastamento médico. Relatos sobre essa síndrome são apavorantes, como se um colapso impedisse qualquer possibilidade de trabalhar.
Hoje, a discussão mais intensa sobre o mundo do trabalho gira em torno da proposta de acabar com a escala 6x1, onde se trabalha seis dias para folgar um. A Proposta de Emenda à Constituição, que já avança na Câmara dos Deputados, ainda tem um longo caminho pela frente. Não se sabe qual será o desfecho, mas a exaustão dos trabalhadores não pode ser ignorada.
Se os encargos trabalhistas travam essa proposta, que se aprofundem as discussões. Ignorar o clamor popular por novas relações de trabalho só fará adiar um debate inevitável. Se a sugestão de uma escala 4x3 é inviável, o diálogo sobre alternativas como a 5x2 — cinco dias de trabalho para dois de descanso — requer uma reflexão mais ampla. Isso demanda envolvimento não só do Congresso Nacional, mas também do Palácio do Planalto.
Repensar nossas relações de trabalho é parte da evolução social. A busca por um ambiente profissional mais saudável é não apenas legítima, mas essencial.