É muito mais que o ChatGPT. Quase todos os dias, surgem notícias extraordinárias sobre a inteligência artificial generativa – aquela que cria novos conteúdos a partir de padrões aprendidos. Talvez, toda essa revolução esteja passando despercebida por você, mas acredito que estamos vivendo uma transformação comparável ao surgimento da internet. Mais do que assistir, incrédulos ou encantados, ao avanço dessa tecnologia, precisamos entendê-la mais a fundo.
Até semana passada, por exemplo, nossos dados pessoais estavam servindo para treinar a inteligência artificial das redes sociais da Meta – Facebook, Instagram e WhatsApp. Mas como? Quais dados? Não sabemos. Nem mesmo a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão federal que determinou a imediata suspensão da nova política de privacidade da empresa, em vigor desde 26 de junho, sabe.
A Meta não gostou dessa suspensão. Alega ser transparente e estar em conformidade com as leis de privacidade no Brasil. Entretanto, alguns especialistas apoiam a posição da ANPD. A advogada Gabrielle Sarlet, pós-doutora em direito e coordenadora do curso de especialização em Direito Digital na PUCRS, é uma delas. Ela destaca a necessidade de clareza sobre quais informações são coletadas e sua finalidade. E sublinha a importância de proteger os dados de crianças e adolescentes.
Enquanto isso, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei para regulamentar a IA no Brasil. O autor é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Entre os pontos sob análise estão, justamente, a proteção da privacidade e dos dados pessoais. O relator, senador Eduardo Gomes (PL-TO), também aponta a necessidade da preservação de direitos autorais – uma outra longa discussão.
Entre a preocupação com a privacidade e o medo de restringir os benefícios da inteligência artificial, busco um equilíbrio responsável. A complexidade do tema não pode nos afastar do que está em jogo. Compreender o avanço dessa tecnologia não é apenas uma curiosidade. É perceber como essa revolução ditará o ritmo de nossas vidas e moldará a sociedade. Não se trata apenas de ter um parceiro de pensamentos ou um facilitador de tarefas. É sobre o impacto profundo para além do ChatGPT.