Os jogos de futebol fazem parte das tradicionais confraternizações de final de ano. Momento de reunir colegas da empresa, amigos de infância ou turma do clube. Nem sempre termina bem, mas é divertido. O pessoal da empresa se surpreende com a bola de uns e fica decepcionado com outros. Na hora de dividir os times, são várias opções: por filiais, por setores, Gre-Nal ou o clássico de casados e solteiros.
Quando colocam a turma casada de um lado e a solteira do outro, normalmente aparece a diferença de preparação física e idade, o que não é certeza de vitória para os mais jovens e menos barrigudos. Sempre acreditei que este clássico do futebol de amigos era coisa mais recente, talvez de 40 ou 50 anos para cá. Me caiu os butiás do bolso lendo a coleção Grêmio 70, publicação com a história do clube para comemorar o aniversário em 1973. Com escalação e tudo, descreveu o "match" de encerramento do ano de 1908. Em 15 de novembro, no campo da baixada do Moinhos de Vento, jogaram casados contra solteiros.
No clube, já falavam há tempo sobre a possibilidade de fazer um enfrentamento desta natureza. O futebol ainda era coisa recente na cidade, que teve a fundação dos primeiros clubes em 1903. Pelo relato deixado por Álvaro Brochado, fundador e jogador do tricolor, "a curiosidade por ver medir as suas forças os jogadores mais ativos do Grêmio fez com que levasse para o nosso ground uma multidão que nunca presenciamos". O jogo foi um sucesso.
Os solteiros venceram por 6 a 1. O prêmio foram gravatas com as cores do time. A partida fez parte das confraternizações do clube de atiradores que ficava ao lado da Baixada. Com o sucesso do jogo, o Grêmio voltou a realizar o confronto em 14 de novembro de 1909. Em dia de vento forte na região, os casados deram o troco e venceram por 3 a 1.
Em Porto Alegre, o embate de casados e solteiros é mais antigo do que o maior dos nossos clássicos, o Gre-Nal. O Inter foi fundado em 1909, mesmo ano do primeiro jogo contra o Grêmio. Quando reunir seus amigos e colegas para a confraternização de final de ano, saiba que, ao dividir os times entre casados e solteiros, estará dando continuidade a uma tradição tão antiga quanto o futebol no Rio Grande do Sul.
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