O eleitor gaúcho tem a fama de trocar governadores, com uma maioria insatisfeita apostando em novo rumo. Contrariando o histórico das eleições, Eduardo Leite (PSDB) conseguiu vencer dois pleitos consecutivos. Não é o primeiro reeleito no Rio Grande do Sul, mas tem todos os méritos da vitória em uma eleição onde é respeitada a vontade da maioria dos eleitores.
O único reeleito anteriormente, em pleitos consecutivos, foi Antonio Augusto Borges de Medeiros, em um período político que ficou marcado por acusações de fraudes e sufocamento da oposição. O advogado, nascido em Caçapava do Sul, ganhou a confiança de Júlio de Castilhos depois de ocupar o cargo de chefe de polícia no final do século 19. Com apoio do chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), venceu a primeira eleição no final de 1897, sem adversário, depois da oposição não aceitar participar de uma "farsa". É importante lembrar que o Estado ainda vivia as consequências políticas da sangrenta Revolução de 1893.
Com uma primeira reeleição, em 1902, também sem adversário, Borges de Medeiros ficou no cargo de presidente do Estado (equivalente a governador) entre 1898 e 1908, em dois mandatos de cinco anos. O político, fiel à cartilha positivista, até pretendia um terceiro mandato consecutivo, mas optou por indicar o médico Carlos Barbosa Gonçalves para enfrentar Fernando Abott, um castilhista dissidente. O candidato borgista venceu com 61 mil votos o pleito de 1907. Naquela época, uma pequena parcela da população votava. Pelo censo de 1900, o Rio Grande do Sul já tinha mais de 1,1 milhão de habitantes.
Borges voltou ao cargo de presidente do Rio Grande do Sul em 1913, sendo reeleito em 1917 e 1922, novamente com acusações de fraude. No pleito de cem anos atrás, a contagem oficial somou 106.360 votos para o republicano contra 32.216 do adversário, Joaquim Francisco de Assis Brasil. Pela Constituição, o presidente precisava 75% dos votos para conquistar a reeleição. O grupo de Assis Brasil acusou o governista de fazer uma mágica para enquadrar os números à legislação.
A insatisfação com o resultado fez eclodir a Revolução de 1923, chamada de Libertadora. Chimangos (Borges) e maragatos (Assis Brasil) pelearam. O acordo de paz de Pedras Altas foi assinado em 14 de dezembro de 1923. Pelo acerto entre os grupos políticos, Borges terminaria o mandato, em 1928, mas não tentaria nova reeleição. Completou cinco mandatos na cadeira de líder do governo. O chimango seria sucedido por Getúlio Vargas.
Para entender os métodos de fraude na época, conversei com o historiador Moacyr Flores. Ele brincou que a apuração era mais rápida do que nas urnas eletrônicas, já que todos "sabiam o resultado antes da votação". Lembrou que só os republicanos podiam votar em trânsito. O partido lotava trens e, em cada estação, todos desembarcavam para votar. Um ato repetido em várias cidades, com o mesmo eleitor votando muitas vezes. O historiador também lembra que os republicanos faziam a contagem, anotavam em ata e depois queimavam os votos. Não ficava difícil de fazer a mágica dos números.
Entre 15 de novembro de 1889 e 23 de janeiro de 1893, o Rio Grande do Sul teve 16 presidentes. Júlio de Castilhos não chegou a ser reeleito pelo voto popular. O presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Miguel Frederico do Espírito Santo, lembra que a primeira eleição foi pela Assembleia. Em novembro de 1891, o mandato foi interrompido pela renúncia, quatro meses após a posse. Castilhos acabou sucedido por uma junta (governicho), que foi referendada pela Assembleia. A segunda eleição do líder republicano, sim, ocorreu com o voto popular. Com isso, Júlio de Castilhos retomou o poder em janeiro de 1893, ficando até repassar o cargo para Borges de Medeiros, cinco anos depois.
Outro caso que merece ser mencionado é de Ildo Meneghetti, eleito duas vezes pelo voto popular, mas não foram eleições consecutivas. Ele governou de 1955 a 1959 e de 1963 e 1966.
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