O caso do menino Miguel, assassinado em Imbé, em 2021, choca até mesmo quem está acostumado a lidar com casos de violência pelo seu ofício. O delegado Antônio Carlos Ractz, responsável pela investigação, contou ter chorado diante da frieza e da brutalidade dos atos inescrupulosos narrados pela mãe e pela madrasta. De fato, assistir aos depoimentos, ler os relatos da investigação, acompanhar o júri tem sido devastador. Cada detalhe é capaz de produzir um nó difícil de sair da garganta. É impossível permanecer indiferente.
Não bastasse a morte e o corpo despejado num rio, a criança — segundo a investigação — foi espancada e repetidas vezes. Foi acorrentada, violentada, não comia. A mãe o fez escrever repetidas vezes frases que diziam que ele, um menino de sete anos, era imprestável. É perverso. Inadmissível diante de qualquer aspecto de humanidade.
Há um provérbio que diz que para criar uma criança é preciso uma aldeia, sugerindo que, de fato, são muitas as mãos responsáveis para garantir segurança e dignidade aos meninos e meninas que nascem. Neste caso, falhamos. Falhamos como sociedade e como Estado. Nenhuma rede de proteção foi capaz de proteger o menino Miguel. Falhamos em garantir abrigo seguro, em assegurar afeto, em promover uma vida sem dor a uma criança que não tinha como se defender, nem pedir socorro. Assista, acima, ao meu comentário sobre isso na Rádio Gaúcha.