O episódio que envolve a investigação sobre uma suposta estrutura de "Abin paralela" durante o governo de Jair Bolsonaro ainda possui perguntas importantes a serem respondidas. Nos bastidores, os investigadores trabalham para tentar elucidar ao menos dois pontos.
Um deles envolve um personagem que atuava no coração do antigo governo. Trata-se do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno. Como se sabe, a Abin era peça importante que ficava sob o guarda-chuva do ex-ministro.
Afinal, ele sabia que a agência atuava desta forma e com esta finalidade? Era do conhecimento do ex-ministro que uma estrutura estatal era utilizada para monitorar adversários políticos ou até mesmo para municiar pessoas sobre investigações em andamento? Ele deu aval?
O segundo aspecto a ser elucidado envolve o destino final das informações obtidas através deste suposto monitoramento ilegal. Se de fato informações de investigações eram obtidas pela Abin paralela, a quem serviam esses dados? Somente aos filhos do presidente? Ou o chefe do Executivo tinha conhecimento sobre tal prática? As decisões passaram por ele? Serviram a ele?
Aqui cabe lembrar que o ex-ministro Gustavo Bebbiano chegou a dizer, em entrevista ao programa Roda Viva, em 2020, que aconselhou o então presidente Jair Bolsonaro a não adotar a "Abin paralela", que teria sido sugerida pelo filho Carlos. O alerta incluiu a preocupação de que o ex-presidente corria o risco de sofrer um impeachment por tal prática.
— (Bolsonaro reagiu) de forma passiva, desviando do assunto, e não enfrentou. A coisa foi sendo cozinhada, e o Carlos, depois, queria que contratassem um primo dele de qualquer maneira. O general Santos Cruz bloqueou a ideia — afirmou.
A PF espera descobrir respostas para essas perguntas nos próximos dias com o avanço das investigações. No caso do general Heleno, a Polícia Federal intimou o ex-ministro para depor na próxima terça-feira sobre o funcionamento de uma Abin paralela.