Há oito anos, a vida de Mateus Schwartz mudaria completamente. Como ele próprio narra, 2014 marcou o início de sua trajetória na Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), quando conheceu uma nova realidade e sentiu o quanto poderia fazer servindo às pessoas.
Natural de Pelotas, Schwartz tem 31 anos e começou, nesta carreira, como agente penitenciário.
Em 2023, um desafio novo e imenso: foi nomeado pelo governador Eduardo Leite para o comando da Susepe, estrutura responsável por planejar e executar a política penitenciária do Estado.
— Meu foco é fazer do sistema prisional gaúcho uma referência nacional — afirmou à coluna.
O caminho não é fácil. E no meio dele, um obstáculo que não atinge a todos. O preconceito por conta da orientação sexual.
Por si só, a profissão já seria desafiadora e ele sabe o quanto de trabalho terá pela frente. Mas a sexualidade lhe rendeu comentários pejorativos e homofóbicos.
Já havia sido assim enquanto ascendia na carreira profissional. Desta vez, ao ser nomeado para o comando da Susepe, infelizmente, não foi diferente.
— Meu trabalho sempre foi pautado na boa prestação do serviço público. Baseado no respeito e diálogo com os colegas, respeito à dignidade humana da pessoa privada de liberdade e com foco na segurança. E é isso que deve ser avaliado: minha vida funcional e meu desempenho no trabalho — afirmou.
Mas ele não arredou pé. Pelo contrário. Seguiu adiante na missão profissional e decidiu usar do próprio exemplo para auxiliar colegas que também passaram ou passam por preconceito, em especial na área da segurança.
— Infelizmente, para muitas pessoas isso ainda é tabu e principalmente dentro da segurança pública. Levei adiante na época para mostrar que é possível enfrentar e combater qualquer tipo de discriminação. Recebi mensagem de diversos colegas que já haviam passado, ou estavam passando por isso, inclusive de outras instituições, pedindo ajuda ou orientação — contou.
Leia a conversa com Mateus Scwhartz:
Como foi receber o convite para chefiar a Susepe? Ficou feliz com o novo desafio?
Sim. Me sinto muito feliz e honrado com o convite do governador Eduardo Leite e do secretário Viana (Luiz Henrique Viana, da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo). Venho de uma trajetória de mais de oito anos me dedicando ao sistema prisional e o convite recebo como reconhecimento do trabalho e dessa trajetória.
Infelizmente, com a sua nomeação também vieram ataques homofóbicos, preconceituosos. Pelo que li, você já havia sofrido ataques em outro momento. Como foi? Você decidiu denunciar?
Sim. Decidi denunciar porque isso é crime. Meu trabalho sempre foi pautado na boa prestação do serviço público. Baseado no respeito e diálogo com os colegas, respeito à dignidade humana da pessoa privada de liberdade e com foco na segurança. E é isso que deve ser avaliado: minha vida funcional e meu desempenho no trabalho.
Entendo que minha vida privada e minhas escolhas pessoais podem ser pauta quando minhas atitudes venham a ferir princípios de dignidade e ética relacionados à minha vida profissional. Mas os casos com intuito de discriminação e depreciação eu procuro agir como a legislação me faculta. Pra mim, para minha família, pros meus amigos e maioria dos colegas de profissão isso não é um tabu, mas muitas pessoas ainda sofrem com preconceito.
Com o novo desafio, agora na Superintendência da Susepe, os ataques voltaram. O que você pensa sobre isso?
Tenho recebido muitas felicitações e mensagens de apoio dos colegas, acreditando no projeto de trabalho, é nisso que estou focado. Claro que já fiquei sabendo de alguns comentário em grupos, nas redes sociais, mas tenho bastante trabalho, projetos para colocar em prática e tirar do papel, que não sobra tempo pra acompanhar esse tipo de comentário. Meu foco é fazer do sistema prisional gaúcho a referência nacional.
Li numa entrevista que a sexualidade não é um tabu para você, mas que pra muitas famílias ainda é e por isso você resolveu levar isso adiante. Para que o tema pudesse ajudar outras pessoas. É isso?
Isso mesmo. Infelizmente, para muitas pessoas isso ainda é tabu e principalmente dentro da segurança pública. Levei adiante na época para mostrar que é possível enfrentar e combater qualquer tipo de discriminação. Recebi mensagem de diversos colegas que já haviam passado, ou estavam passando por isso inclusive de outras instituições, pedindo ajuda ou orientação.
E sobre o desafio profissional, como está sendo se inteirar para o comando da instituição?
É um desafio enorme, com a agenda lotada o dia todo. É bastante corrido, tem bastante trabalho, mas é satisfatório e motivador. Estamos diagnosticando o sistema prisional gaúcho, entendendo o que já vinha sendo feito. Isso é fundamental para darmos andamento aos projetos que queremos evoluir. O sistema prisional cresceu muito nos últimos anos aqui no Estado, recebemos os maiores investimentos da nossa história e temos ainda muito trabalho pela frente, com a readequação do Presídio Central de Porto Alegre e a regulamentação da Polícia Penal.