
São 17 letras que, juntas, formam a palavra que o governo tem se esforçado para incluir com alguma pressa no vocabulário dos brasileiros, desde que os bloqueios no orçamento da Educação, anunciados pelo ministro Abraham Weintraub, fizeram eclodir uma série de críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Estudantes e movimentos foram às ruas em todo o país nesta quarta-feira (15) protestar contra a redução dos recursos para universidades. Mas afinal, contingenciamento é menos grave do que corte, como o Planalto e seus ministros querem fazer crer?
Comecemos pelo começo. A confusão que o governo credita à mídia e aos partidos de oposição — de misturar as palavras corte e contingenciamento — começa em uma desastrosa forma de comunicar à população a redução das verbas aplicadas em universidades e institutos federais. Se de fato os recursos contingenciados refletem apenas o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, por que razão o ministro Weintraub falou em "balbúrdia" e "gente pelada"? A ideologia como critério de redistribuição de recursos em nada contribui para o avanço de uma discussão importante em um país que experimenta um cenário desesperador em suas contas públicas.
A confusão que habitava os fóruns de internet e as redes (anti) sociais foi parar também no Congresso Nacional. Nesta semana, deputados que foram ao Palácio do Planalto se reunir com o presidente Jair Bolsonaro saíram com a ideia de que o corte — contingenciamento? —havia sido suspenso. Mas não. Foram desmentidos pela líder do governo Joice Hasselmann (PSL) e o resultado você já sabe: o ministro foi convocado para dar explicações no plenário da Câmara. A sessão foi tumultuada, teve farpas dos dois lados e e o governo voltou a insistir na ideia: é contingenciamento, não corte.
Não é preciso tanto esforço para perceber que o debate avançará com melhor desempenho se substituirmos ideologia por critérios claros de avaliação e que adotarmos serenidade e seriedade na condução um tema tão caro. E mais: o ministro pode, sim, ter razão quando faz questão de diferenciar as palavras em suas explanações.
Em entrevista recente à Rádio Jovem Pan (assista abaixo), Weintraub explicou — com educação, aliás — que é previsão legal adequar despesas e receitas previstas no orçamento (enviado no governo anterior) quando a arrecadação descrita no documento não se materializa. Portanto, neste sentido, ao aplicar o, aí sim, "contingenciamento", o governo estaria apenas fazendo cumprir a lei.
Em suma: se o ministro quiser, de fato, que estejamos cientes e, mais, sejamos compreensíveis com esta realidade, é imperativo que haja explicações claras, precisas e — perdoem o trocadilho — sem "balbúrdia" por parte do governo e seus ministros. Não dá para simplesmente chamar estudantes de "idiotas" e achar que tudo está bem. Acima de tudo, um elemento será imprescindível neste debate: educação.