O ano era 1999, se não me falha a memória. Eu, estudante de jornalismo na Unisinos, cursava a cadeira de Introdução ao Rádio, com o professor Sérgio Endler. A tarefa era fazer uma entrevista com algum personagem de destaque, já para começar a testar nossas habilidades. Não titubeei. Falei ao professor: quero entrevistar Celestino Valenzuela.
Guardava com carinho e inspiração, o trabalho do grande narrador. Me lembro dos jogos narrados por ele entre 1987 e 1989 pela RBSTV. Eu vibrava mais com jogadas perigosas do que com as narrações de gols, só para poder ouvir o famoso: que lance - que o Celestino fazia espichar com maestria e sonoridade.
Não duvido também que a minha escolha pelo jornalismo tenha um pouco de "culpa" do Celestino. Amava vê-lo. Desde quando ele apresentava a parte esportiva do Jornal do Almoço e fazia questão de dizer que torcia pelo Aimoré.
Enfim, voltando para 1999. O professor Sérgio Endler me alertou. Celestino não dava entrevista, mas, se eu conseguisse, seria um grande fato jornalístico, pois ele não dava entrevista desde que deixou a RBS, em 1989, quando se aposentou.
O meu primeiro desafio era descobrir como eu conseguiria encontrá-lo. Há 21 anos, a internet não costumava nos dar informações tão detalhadas sobre paradeiro de pessoas. Eu sabia que ele morava na praia, possivelmente em Imbé. Depois de algumas ligações consegui descobrir o endereço do grande narrador. Imaginei que, se eu telefonasse para ele, certamente receberia um sonoro não ao meu pedido. Esperei um feriado, fiz uma lista de umas 30 perguntas impressa em uma folha A4 e rumei para a praia.
Nervosismo, ansiedade, curiosidade. Tudo isso passou por mim naquele trajeto enquanto dirigia pela freeway. Perto das 10h, bati no portão. Uma senhora, gentilmente, me atendeu. Expliquei o que pretendia. A esposa de Celestino me explicou que ele havia saído para ir pescar. Possivelmente, ele voltaria à tarde.
Peguei o carro e esperei na beira-mar. E por ali fiquei até o começo da tarde. Depois disso, voltei ao endereço desejado. Sem ser oportuno, fiquei distante o suficiente para aguardar a chegada do meu ídolo. De fato, quase no fim da tarde, ele chegou. Esperei ele se estabelecer. Estufei o peito e toquei a campainha. Sua esposa já o alertava o que pretendia aquele menino de 20 anos à beira do seu portão.
Ele me ouviu com toda sua atenção. Expliquei o que pretendia. Não me lembro se eu tremia externamente. Internamente, a ansiedade tomava conta de mim. Depois de uns dois minutos de apresentação chegou a vez dele falar.
Sereno e gentil, ele se justificou. Desde que saiu da RBSTV não concedia entrevistas e não o faria. Fez isso com uma classe que me deixou ainda mais fã dele. Não sai dali bravo ou triste. Saí dali feliz. Por ver alguém que eu admirei tanto. Por saber que consegui encontrá-lo. Dobrei a folha das perguntas. E rumei para Canoas.
Na aula seguinte, expliquei ao professor Sérgio Endler o ocorrido. Obviamente, que aquela justificativa não significaria a eliminação de fazer o trabalho. O professor me determinou uma nova missão. Afinal, eu ainda precisava da nota.