Entre novembro de 2020 e outubro de 2023, o homem por trás do ChatGPT, Sam Altman, patrocinou um estudo sobre distribuição de renda básica nos Estados Unidos: entregou US$ 1 mil mensalmente para cerca de 1 mil pessoas de baixa renda nos Estados de Texas e Illinois. Altman é o fundador da OpenAI, empresa que criou a inteligência artificial mais popular do mundo. A fortuna de Sam é avaliada em cerca de US$ 2 bilhões (a OpenAI é avaliada em US$ 86 bi, mas ele diz não ter ações da empresa).
Foi o maior experimento sobre distribuição de renda básica já feito naquele país, segundo a Vox, e vinha sendo planejado pelo empresário desde 2016.
“As pessoas ficam jogando videogame, ou criam coisas novas? Ficam mais felizes e satisfeitas? Sem medo de não ter o que comer, elas conseguem realizar mais e contribuir mais com a sociedade?”, pergunta Altman no manifesto escrito quatro anos antes do início da pesquisa, chamada Unconditional Cash (Dinheiro Incondicional) “Estou confiante que em algum momento no futuro, à medida que a tecnologia elimina os trabalhos tradicionais e novas fortunas são criadas, vamos ver alguma versão disso em escala nacional”.
Comparados com o grupo de controle (2 mil pessoas que receberam US$ 50 por mês), os participantes procuraram mais por empregos, mas também foram mais seletivos na escolha; tomaram decisões mais alinhadas a seus valores e objetivos, e não apenas às necessidades.
- No entanto, os beneficiados com mais dinheiro foram em média dois pontos percentuais menos propensos a conseguirem um emprego do que os outros.
- No começo do estudo, 58% dos mais beneficiados estavam empregados, assim como 59% do grupo de controle; três anos depois, a proporção era de 72% e 74% respectivamente.
- Quem recebeu mais também trabalhou em média 1,3 hora a menos por semana.
- Ao final do estudo, tanto a renda média individual quanto a domiciliar eram maiores entre os que receberam US$ 1 mil.
- Os beneficiados investiram mais tempo em cuidados com outros (23 minutos por mês, em média), cuidados médicos (21 minutos/mês), finanças (19 minutos a cada mês) e religião (três minutos).
Os autores do estudo concluíram que a renda extra permitiu que os outros adultos que viviam na mesma casa do que os participantes puderam, graças ao dinheiro extra, trabalhar menos horas e aumentar sua própria renda. Porém, se descontados os pagamentos mensais, o grupo de controle aumentou proporcionalmente mais a renda domiciliar.
Saúde
No âmbito da saúde, a pesquisa concluiu que os beneficiados aumentaram seu investimento em cuidados médicos em relação ao grupo de controle:
- 26% mais hospitalizações no último ano
- Probabilidade 10% maior de visitar uma emergência no último ano
- Aumento de 8% em consultas médicas
- Probabilidade 6% maior de ter consultado um especialista no último ano
O estudo sugere ainda que os beneficiados com mais dinheiro reduziram o abuso de álcool e medicamentos. Entre eles, comparados ao grupo de controle, houve queda de 20% no consumo de álcool, com consequências nas responsabilidades e 53% menos dias usando analgésicos não prescritos.
Não houve, no entanto, impacto na prática de exercícios ou na qualidade do sono, em nenhum dos dois grupos.
Empreendedorismo
Embora todos os participantes tenham, em alguma medida, se mostrado mais propensos a empreender, foi entre os pretos o maior impacto: 74% deles, no grupo de beneficiados. tiveram pelo menos uma ideia de negócio ao longo dos três anos, contra 66% daqueles no grupo de controle. Ao final do estudo, 43% dos pretos no primeiro grupo tinham começado ou ajudado a começar um negócio, ante 34% dos que estavam no grupo de controle.
O estudo foi executado pela OpenResearch, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos que busca combinar “as forças da pesquisa acadêmica tradicional à agilidade de uma startup para resolver problemas”.