Dois eventos emblemáticos movimentam a Fronteira Oeste nesta semana. Brasil e Uruguai inauguram nova parceria para combate aos delitos fronteiriços. Ambos os países ganharão, na linha divisória, repartições dedicadas a investigar especificamente o crime organizado.
As duas inaugurações acontecem na mesma manhã, nesta terça-feira (19). O município de Santana do Livramento ganha nesta terça sua primeira Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil.
Já sua cidade-gêmea no Uruguai, Rivera (da qual Livramento é separada por uma avenida), receberá uma repartição da Dirección de Investigaciones da Policia Nacional (a principal dos uruguaios).
— Já temos um trabalho de estreitamento de relações com os uruguaios e optamos por abrir as duas delegacias no mesmo dia para dar peso ao simbolismo. Agora vamos estreitar o combate às facções criminosas dos dois lados da fronteira — enfatiza o secretário estadual da Segurança Pública, delegado Sandro Caron, que estará presente nas duas solenidades, junto com representantes da Polícia Civil e da BM.
Está prevista também a presença do ministro do Interior do Uruguai, Nicolás Martinelli, além da direção da Policia Nacional daquele país.
O leitor pode até estranhar: ué, as polícias não investigam crime por lá? Lógico que fazem isso. A diferença é o aprofundamento.
Repartições policiais convencionais são como um bombril, fazem de tudo. Investigam de arrombamentos a brigas entre marido e mulher, passando pelo delito de trânsito, pelas desavenças de bar, pelo assalto a pedestre. Até por isso, difícil que consigam atuar contra as facções organizadas, que investem pesado na região fronteiriça.
Por motivos óbvios, já que a área é corredor de passagem de drogas e armas, além de mercadorias mais convencionais, mas contrabandeadas e que causam enorme prejuízo no recolhimento de impostos, vitais para a economia dos dois países.
Mesmo outro crime típico da região, o abigeato (roubo e furto de gado) não tem delegacia específica em Livramento. Até por isso, a Draco será mais do que bem-vinda.
Já no lado uruguaio da fronteira as investigações mais aprofundadas sempre foram feitas por agentes enviados desde Montevidéu. Sei disso porque em 2018 participei de uma investigação feita por uruguaios que resultou na prisão de quatro policiais do Uruguai responsáveis por contrabandear mais de 400 armas ao Rio Grande do Sul. Grande parte desse armamento acabou nas mãos de quadrilheiros e viabilizaram diversos homicídios em território gaúcho. Agora esse tipo de crime ficará mais difícil.