Existe uma torcida imensa no Ocidente para que a Ucrânia sobreviva ao avanço russo. A realidade, porém, é que o governo de Volodimir Zelensky conseguiu recuperar pouquíssima área no universo de milhares de quilômetros de território tomados pela Rússia desde fevereiro de 2022, quando começou essa guerra, a mais mortífera em 70 anos na Europa.
Estimativas de analistas norte-americanos dão conta de que o governo ucraniano reconquistou pouco mais de cem quilômetros quadrados em sua contraofensiva, de um total de 87 mil capturados pelos russos ao longo do ano passado. Difícil verificar, já que o front continua em movimento, sobretudo no leste, a região mais simpática à Rússia e ambicionada por aquele país - seja por questões culturais, seja porque é rica em minério.
O pior, nesse cenário, é a carnificina. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou dia 4 que a Ucrânia perdeu 43 mil soldados em sua contraofensiva, iniciada no final de maio. Além das mortes, os russos afirmam que os ucranianos perderam 4,9 mil veículos, incluindo 1,8 mil blindados e 26 aviões. Dá para levar a sério as estatísticas? Não muito. Como se sabe, a verdade é a primeira vítima numa guerra, como disse o senador norte-americano Hiram Johnson ao se opor ao ingresso dos EUA no primeiro conflito mundial, em 1917.
Para contrapor essa afirmativa da Rússia, é preciso usar também as estimativas dos ucranianos a respeito. Conforme o governo da Ucrânia, os russos perderam 250 mil soldados desde o início da guerra (além de contabilizarem 750 mil feridos), 8,7 mil blindados de transporte, 4,2 mil tanques, 4,9 mil peças de artilharia e 315 aeronaves. Dá para confiar? É saudável ser cético, mas são os números que estão disponíveis. A se julgar por essa estimativa ucraniana, todo efetivo russo teria sido ferido ou morto (sem contar contingentes de reserva). A propaganda move os dois lados do conflito.
O resultado desse embate entre irmãos eslavos é um banho de sangue e mutilações. Quem vencerá? Caso não surja logo um armistício via mesa de negociações, o ponteiro do relógio corre contra a Ucrânia. Pelo simples motivo de que é muito menor que a Rússia. As Forças Armadas russas começaram a guerra com 900 mil combatentes, mas podem facilmente triplicar esse contingente, chamando reservistas (que são 2 milhões) ou convocando gente mais jovem. Já os ucranianos começaram a guerra com 219 mil militares. Grande parte deles (não se sabe quantos) foram mortos ou feridos com gravidade. É por isso que são frequentes as cenas de policiais militares recrutando à força jovens ucranianos em regiões que estão longe do front, como Lviv (no oeste). Afinal, a estimativa é que 470 mil jovens da Ucrânia atinjam a idade do serviço militar, anualmente. Na ponta do lápis, caso outros países não ingressem na guerra para ajudar os ucranianos, é fácil prever uma vitória russa - pelo menos, com a anexação definitiva da parte leste do país invadido. A mesa de negociações é talvez a única esperança para Zelensky.