A inauguração da linha de montagem da Embraer que vai produzir 15 dos 40 caças F-39 Gripen encomendados à sueca Saab, que contou com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na manhã desta terça-feira (9), representa uma capítulo feliz numa história de décadas, cheia de sobressaltos e recuos.
A decisão de renovar a frota de jatos de interceptação do Brasil foi anunciada pela primeira vez em 1995, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele queria substituir os ultrapassados Mirage franceses que compunham a vanguarda da aviação de caça brasileira. Era o chamado projeto FX.
FHC não chegou a licitar o modelo. Quando Lula venceu sua primeira eleição, em 2002, determinou em seguida o cancelamento do projeto e sua substituição pelo projeto FX-2, com mais recursos. Apresentaram-se para a licitação cinco concorrentes: o francês Rafale F3 (da Dassault), o norte-americano F-18 Super Hornet (da Boeing), o sueco Gripen NG (da Saab), o russo SU-35 Super Flanker (da Sukhoi) e o também norte-americano F-16 (da Lockheed Martin).
Logo em seguida ficam de fora da disputa, entre outros modelos, os da Sukhoi, russa, e o norte-americano F-16 (da Lockheed Martin). O Sukhoi Su-35 era considerado o favorito, por suas vantagens logísticas: era uma avião grande, potente e com capacidade de atravessar o Brasil, maior do que a dos concorrentes. Não bastou. Pesaram contra as questões geopolíticas — sobretudo pelos russos terem vendido aviões da mesma marca para a Venezuela, vista por militares brasileiros como um inimigo em potencial por seu flerte com o socialismo.
Em 2010, a Aeronáutica brasileira fez um relatório em que apontava o Gripen como o mais adequado ao Brasil. Um dos motivos elencados foi a oferta sueca de fornecer "dois caças pelo preço de um", além da promessa de que 40% dos aviões poderiam ser fabricados no país. Em dezembro de 2013, o governo Dilma Rousseff deu ganho à Saab na demorada licitação. Quase duas décadas tinham se passado desde o anúncio de FHC.
Só que até agora só chegaram seis Gripen, dos 40 encomendados à Saab. Dois deles, na última semana. São demoras que têm a ver com orçamento e, também, modernizações tecnológicas. A quantidade de caças a ser produzida no Brasil, na fábrica de Gavião Peixoto (município paulista situado a 243 quilômetros de São Paulo), também diminuiu. Ficou em pouco mais de 1/3 dos 40 acertados com a Suécia. De qualquer forma, a iniciativa deve gerar 200 empregos qualificados na indústria aeronáutica brasileira. Notícia boa o suficiente para justificar os demorados aplausos recebidos pelo Gripen em seu voo rasante sobre a comitiva presidencial, na ensolarada manhã desta terça-feira de inaugurações.