Por outros afazeres, não tinha abordado ainda um dos escândalos da semana. Agora o faço. Os muitos policiais que conheço que me desculpem, mas não há como defender qualquer uma das atitudes tomadas pelos servidores rodoviários federais que asfixiaram até a morte Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe. É um crime gravado e as imagens correram o mundo.
Pelo que o vídeo mostra, Genivaldo sequer reagiu com violência ao ser abordado pelos policiais. Ele tentou mostrar seus documentos, que toma remédios. Talvez tenha se irritado em algum momento, o que é corriqueiro.
Caso tivesse reagido com violência, usar a força para conter Genivaldo seria usual. Não parece que ele reagiu. Mesmo assim, o que vem a seguir é de uma crueldade raras vezes documentada.
Poderia ser apenas despreparo para imobilizar alguém, mas é muito mais. Não satisfeitos em algemar Genivaldo, os patrulheiros abriram um cilindro de gás lacrimogêneo, enfiaram o tubo dentro da “cachorreira” (o compartimento onde vão os presos) e transformaram o camburão numa câmara da morte. O detido grita, pede ajuda. Em vão. Os policiais continuam, até o sujeito ficar inconsciente. Até o transportaram para o hospital, mas já era tarde.
Já fui submetido, em treinamento, a doses intensas de gás lacrimogêneo, rastejando num bueiro fechado. Não é pouca coisa. O produto químico é para uso não letal, mas em grandes quantias provoca sufocamento.
Os policiais sabiam disso (ou deveriam saber, senão são péssimos agentes). E usaram justamente para fazer Genivaldo ficar quieto. Tão quieto que morreu. Foi submetido a martírio, como o Jesus do seu segundo nome.
O caso lembra, em tudo, a morte de um sujeito sufocado até a morte por guardas de um supermercado em Porto Alegre, em 2020. Um negro. Genivaldo também tinha ascendência negra. Coincidência? Não parece ser, num país em que suspeitos são definidos pela cor da pele. E onde muitas autoridades celebram e incentivam a violência policial. Aliás, qual o nome adequado para o que aconteceu em Sergipe?