Parlamentares de quase todos os partidos estão intrigados com o desfile de blindados e tropas na Esplanada dos Três Poderes, em Brasília, justo no dia em que podem rejeitar a volta do voto impresso – que Jair Bolsonaro colocou como exigência para que haja eleições em 2022. Deputados prometem dar um recado ao presidente, dentro da democracia, rejeitando seu desejo e mantendo a urna eletrônica. Só que aí surgiu a parada militar da Marinha, Aeronáutica e Exército, bem no cenário dos acontecimentos.
A Marinha, organizadora do ato, informa oficialmente que o desfile será para convidar o presidente para participar de exercícios militares dos Fuzileiros Navais em Formosa (Goiás), próximo à Brasília. Curioso que precise um comboio de 150 carros de combate para fazer isso, mas alegam que é devido ao caráter solene do convite. Tropas do Exército e Aeronáutica também participam. Os blindados saíram do Rio de Janeiro e “passarão em Brasília a caminho de Formosa”, disse em nota a Marinha.
Só que Brasília não é no caminho de Formosa, para quem sai do Rio de Janeiro. As duas rotas previstas, pela BR-040 e pela BR-354, vão direto da capital fluminense ao Campo de Instrução de Formosa sem passar pelo Distrito Federal. O desvio teria custado cerca de R$ 66 mil a mais, em diesel (pelos 150 quilômetros adicionais no trajeto).
Na realidade, as tropas parecem atender a um desejo expresso de Jair Bolsonaro, que no convite para o desfile e no Twitter, se intitulou Chefe Supremo das Forças Armadas. De brinde, 14 blindados serão deixados o dia inteiro em frente ao prédio da Marinha, próximo à Praça dos Três Poderes. Para exposição, justificam os militares. Ou recado, como entenderam os deputados. E isso que o Brasil não é república de bananas, como ressalta o vice-presidente Hamilton Mourão.
O gesto é sob medida para agradar aos entusiasmados fãs de Bolsonaro, mas colhe algum repúdio nos quartéis, de militares que não querem ser confundidos com escada política.