A semana passada foi de união da cúpula das Forças Armadas no repúdio às falas do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar, figura constante no noticiário político, angariou algumas antipatias nos quartéis ao falar em “lado podre das Forças Armadas”, ao mencionar a suspeita que pesa sobre oito militares da ativa ou da reserva em supostas fraudes envolvendo compra de vacinas durante a pandemia.
Generais bolsonaristas e outros que não gostam do presidente se alinharam ao criticar o que chamam de “generalização” e lembrar que os militares estão entre as instituições mais confiáveis do país, segundo pesquisas de opinião.
Entusiasmado, Jair Bolsonaro tentou passar aos seus eleitores uma união do “seu Exército” em torno do projeto político dele. Chegou a falar um sonoro “Caguei para a CPI” na sua live semanal. Só que esqueceu de combinar com algumas lideranças militares. Neste fim de semana, dois oficiais de prestígio no Exército aproveitaram o fato de estar na reserva e abriram o verbo contra os arroubos do presidente.
O coronel de Infantaria Paulo Ricardo da Rocha Paiva, um carioca veterano da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), escreveu um artigo para o site Sociedade Militar intitulado “Por que desisti do presidente”. O oficial diz que Bolsonaro será cobrado nas futuras eleições por sucessivas demonstrações de imperícia, imprudência e negligência no cumprimento do dever – sobretudo com omissões no combate à pandemia de coronavírus, que, reforça Paiva, causaram a morte de mais de 500 mil brasileiros.
O coronel, um dissidente do bolsonarismo enumera as razões do seu repúdio a Bolsonaro:
“Enxovalhou nossas Desarmadas Forças, ameaçando seu emprego como ‘guarda pretoriana’. Deu proteção nada republicana aos seus filhotes, todos parlamentares mais do que suspeitos, investigados no escândalo das rachadinhas. Expôs general como testa-de-ferro na pasta da Saúde. Impediu o cumprimento do Regulamento Disciplinar do Exército em caso de flagrante e indiscutível quebra de disciplina. Aliou-se ao famigerado Centrolão, apesar de ter se eleito prometendo combater a corrupção e a velha política”.
Já o general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, que comandou tropas das Nações Unidas no Haiti e no Congo, ex-ministro do governo Bolsonaro, fez uma live no domingo (11). Foi mais sutil do que Rocha Paiva, mas pediu reação forte do Judiciário e do Congresso a “ameaças absurdas do presidente da República, como dizer que talvez não tenha eleição”. Ele também alertou que “o fanatismo no Brasil pode acabar em violência”.
Detalhe: a live de Santos Cruz, organizada pelo grupo Parlatório S.A., teve apresentação do ex-presidente Michel Temer e, na assistência, o ex-porta voz de Bolsonaro, general Rêgo Barros, e o empresário Jorge Gerdau Johannpeter.
Tanto Rocha Paiva como Santos Cruz enfatizaram, nos seus pronunciamentos, a preferência por uma terceira via política, “de centro”. Enxergam nisso a alternativa à polarização extremada que tem marcado eleições no Brasil.
Sobre eleições, até o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, saiu de sua habitual discrição para assegurar, em entrevista à CNN nesta segunda-feira (12):
"Cumpro o meu papel pelo bem do Brasil. Mas eleição vai haver, eu garanto”.