Integrantes das Forças Armadas, mesmo os que não simpatizam com Jair Bolsonaro, torceram o nariz para um pronunciamento feito na quarta-feira (7) pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid. Até generais avessos aos vaivéns temperamentais do presidente da República acham que o parlamentar extrapolou nas críticas.
Aziz afirmou, entre outras coisas, que “...os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia. Porque fazia muito tempo que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo. Fazia muitos anos". O senador lembrou que foi de oposição ao regime militar e que, mesmo assim, não acusava os governantes fardados da época de corrupção.
“Mas, agora, Força Aérea Brasileira, coronel Guerra, coronel Elcio, general Pazuello e haja envolvimento de militares", desabafou.
O senador se referiu a militares que ocuparam postos no governo Bolsonaro e que estão na mira da CPI, como o general Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde) e o coronel Elcio Franco, que foi secretário-executivo da pasta. Até o momento, oito militares da ativa ou da reserva (um PM e os demais, das Forças Armadas) estão sob investigação na CPI por supostas fraudes envolvendo contratos de compras de medicamentos durante a pandemia. Um deles foi preso, mas pagou fiança e foi solto.
A reação à fala de Aziz foi imediata. O Ministério da Defesa e os comandantes do Exército (que está em visita ao Rio Grande do Sul), Aeronáutica e Marinha assinaram nota conjunta de repúdio, na qual dizem que o senador desrespeitou as Forças Armadas “de forma vil e irresponsável”. Eles afirmam que Aziz generalizou as acusações de corrupção e os militares não aceitarão qualquer “ataque leviano às instituições que defendem a democracia”.
Ouvimos generais da ativa, daqueles que enfatizam a necessidade das Forças Armadas descolarem sua imagem da do presidente Jair Bolsonaro. Acham que a nota do Ministério da Defesa está correta.
— Políticos ficam o dia inteiro sob holofotes da CPI e começam a extrapolar. O senador foi infeliz ao se referir a “lado podre” das Forças Armadas. Não existe “lado podre”, existem episódios isolados.
Outro oficial de cúpula define seu desagrado:
— Cada um que responda pelo que fez. Casos pontuais devem ser tratados como tal, não de forma generalizada, como fez o senador. As Forças Armadas não podem responder pelo que faz um indivíduo ou alguns. São instituições com elevada credibilidade, não custa lembrar.
Nessa pressão contra o que consideram “um excesso” do presidente da CPI, qual o recado da nota enviada ao senador? Um dos generais resume:
— Ele entendeu.
Outro completou:
— É bom lembrar que os políticos têm muitos pecados e credibilidade bem menor que a das Forças Armadas.