Muita gente acredita que o ministro da Justiça, o jurista Torquato Jardim, assumiu com missão de destituir o atual chefe da Polícia Federal (PF), delegado Leandro Daiello Coimbra. Seria uma encomenda do presidente Michel Temer, contrariado pelas investigações policiais que o mantém acossado desde a delação da construtora Odebrecht e que continuaram, com viés bem mais escandaloso, na delação dos donos da empresa de processamento de carnes JBS.
Temer se diz injustiçado e perseguido pela PF, que teria interpretado de forma equivocada diálogos que ele travou com os delatores ou contribuições que ele requisitou em nome da sua campanha à Vice-Presidência da República. Nada mais natural, para os governistas, que exigir a cabeça do chefe dos policiais numa bandeja. Por que Daiello permanece no cargo, então?
Consultados, delegados que conhecem a situação são unânimes em afirmar que a Operação Lava-Jato – a mesma que propiciou as delações da Odebrecht e da JBS – segura Daiello. Ele era o chefe da PF quando foi deflagrada essa investigação, a maior da história dos federais, em 2014.
Não foi dele a iniciativa, a rede de corrupção envolvendo políticos, servidores públicos de carreira e empresários descoberta nessa ação foi encontrada por acaso. O mérito de Daiello foi justamente não ter agido para impedir a continuidade das investigações. E olha que ele sofreu pressões para diminuir o ímpeto da Lava-Jato. Primeiro, durante a gestão da petista Dilma Rousseff, quando muitos integrantes do governo e do partido dela gritavam que o objetivo da operação era perseguir o PT. Depois, durante o governo do peemedebista Michel Temer (ex-aliado e agora adversário de Dilma), que também considera a Lava-Jato uma pedra no caminho da "pacificação" política e econômica do país.
Acontece que a Lava-Jato é a mais popular ação que alguma polícia já fez no Brasil. Pressionar para a retirada do delegado que a manteve ativa significa se tornar ainda mais impopular, uma façanha para um governo com aprovação de 7% nas pesquisas de opinião. Mais que isso: ainda há muita investigação pela frente e os depoimentos guardam surpresas que podem atingir os governantes. Os delegados, mesmo alguns que jamais tiveram simpatia por Daiello, poderiam encarar como uma afronta a remoção de um chefe bem-sucedido nas suas missões. E qual governo quer toda a polícia contra si?