O banho de sangue registrado neste fim de semana em Manaus (AM), com mais de 60 presos mortos em brigas, equivale a mais de meio Carandiru, o massacre que em 1992 deixou 111 assassinados no maior presídio paulista. A diferença é que há 25 anos os apenados foram mortos pela Polícia Militar. No episódio atual, no Amazonas, o conflito foi entre os detentos.
O que há em comum entre os dois fatos, além do número impressionante de mortes? Uma sigla: PCC (Primeiro Comando da Capital), maior facção prisional do país. Ela nasceu justamente como uma reação dos presos ao massacre do Carandiru. Os apenados decidiram se organizar para que o episódio não se repetisse, para que guardas e policiais respeitassem sua condição de prisioneiros. Fizeram isso com estatuto e solenidade. Pois a organização saiu de trás das grades e ganhou as ruas. Primeiro, em São Paulo, onde o PCC - ou Irmandade, como apelidaram os presos - se tornou a máfia hegemônica, nas prisões e nas favelas. Depois espalhou seus tentáculos para outros Estados.
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Ao migrar para outras paragens, a facção paulista desagradou as quadrilhas nativas e também outras facções de envergadura nacional. Os primeiros embates sangrentos aconteceram em Mato Grosso do Sul, na fronteira Brasil-Paraguai. Lá uma guerra entre PCC e Comando Vermelho (CV, a maior e mais sanguinária facção carioca) deixou centenas de cadáveres nos últimos 15 anos.Os conflitos entre PCC e CV na fronteira tiveram uma trégua quando patrões do tráfico decidiram usar os mesmos contrabandistas de droga (os matutos), compartilhando a complicada logística de fornecer cocaína e maconha ao Brasil. Cortaram custos, enriqueceram.
A paz não durou. No Nordeste e no Norte, integrantes do CV - que sempre foram influentes nessas regiões - reagiram à chegada do PCC com chacinas. Num contragolpe, o PCC tomou a maior favela carioca e do Brasil, a Rocinha.Agora acontece esse barbarismo em Manaus, que incluiu cabeças arrancadas, a nova moda no submundo. As autoridades dizem que a Família do Norte (FDN), facção hegemônica no Amazonas, chacinou os integrantes locais do PCC. Retrato de um sistema penitenciário que continua permissivo e desumano.