Logo após a prisão de 12 suspeitos de planejar atentados terroristas no Brasil, em julho, cansei de ler nas mídias sociais comentários de pessoas comovidas com o destino dos jovens presos. Alguns temiam que os detidos, tais como presos políticos do passado, experimentassem "os horrores das prisões brasileiras" apenas pela coragem que tiveram ao expressar suas ideias. Outros viam na Operação Hashtag, da PF, um abuso. Isso porque não foram apresentadas provas na hora das prisões, já que o processo corria em segredo de Justiça.
A razão é simples. O segredo de Justiça foi deflagrado justamente para que os suspeitos não soubessem, de imediato, que indícios os policiais tinham contra eles. Assim, poderiam mentir à vontade nos depoimentos – seriam confrontados com provas, depois.
Aos poucos, começaram a vazar os indícios acumulados pela PF contra os presos (que agora são 16, já que outros quatro foram detidos nos últimos meses). E eles são chocantes. Não estamos diante de um grupo de ingênuos, como alguns apressados analistas disseram, na época das prisões. Nos computadores de muitos, foram encontradas fotos de degolas e atrocidades variadas cometidas pelo Estado Islâmico. Mais: frases de apoio a tudo isso.
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Além disso, alguns diálogos interceptados com autorização da Justiça mostram a intenção do grupo:
"É hora de caçar judeus, esses ratos. O mundo deve ser libertado dessa nova ordem mundial vigente. Adolf Hitler começou o serviço, temos de concluir".
São palavras de Israel Pedra Mesquita, o único gaúcho preso pela Operação Hashtag, com um interlocutor desconhecido.
Vamos a mais um diálogo? Desta vez quem fala é Daniel Freitas Baltazar, codinome usado pelo cearense Caio Pereira. Ele fala com um menor de idade identificado como M.B.S.
"Quem será atacado?" – inquire o menor
"Judeus" – responde Baltazar.
"De que cidade?" – insiste o menor.
"Não é um alvo, mas vários. Não posso dizer no momento" – argumenta Baltazar.
Ambos estão presos.
Quer mais?
O fluminense Alisson Luan de Oliveira, que tentou entrar na Síria e foi preso na Turquia, no Telegram se intitulava Allison Mussa. Por essa mídia social, instigou os demais participantes de um grupo de mensagens pró-Estado Islâmico:
"Já imaginaram um ataque bioquímico, contaminar as águas em uma estação de abastecimento de água? Fazer tipo um pogrom contra os kaffirs (infiéis), entraria pra história. Ou, caso for exagero demais, faríamos um ataque mais simples", postou ele.
Pogrom é expressão conhecida para o extermínio de minorias.
É por essas razões que o Ministério Público Federal (MPF) pediu que eles continuem na prisão. Alguém discorda?