Com prazos (e o calendário da safra) no horizonte, produtores do Rio Grande do Sul afetados pela catástrofe climática tentam organizar as informações — e as contas — sobre medidas anunciadas pelo governo federal. Duas entidades do setor, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), estiveram reunidas nesta quinta-feira (3) com representantes de instituições financeiras. O objetivo: esclarecer dúvidas e avaliar se há tempo tempo hábil para a execução.
Nesta sexta (4), a Farsul volta a se reunir, dessa vez com integrantes dos 135 sindicatos rurais que representa. A proposta é debater o resultado da reunião com bancos e dar orientações aos produtores.
Um dos pontos centrais de preocupação é o acesso à linha de crédito, via BNDES, a partir de recursos do fundo social. O objetivo é usar esse empréstimo para quitar financiamentos em aberto, evitando assim a inadimplência e dando prazo de cinco anos (prorrogáveis por mais três) para o pagamento desse dinheiro.
— Temos seríssimas dúvidas da capacidade da linha de atender aos produtores como foi prometido — observa Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
A criação de uma linha de crédito para apoio a produtores afetados pela cheia havia sido solicitada pela entidade, relembra o economista, em 7 de maio. No caminho até a concretização das medidas, a janela de tempo foi encolhendo. A circular com as regras saiu, mas a vigência é a partir do próximo dia 11. Até o fim do prazo da prorrogação dos vencimentos (no dia 15) são cinco dias.
— Desses, apenas três são úteis. Tudo isso é preocupação — salienta Luz.
Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS, acrescenta questões como a lei de desnegativação (para que o produtor não entre no vermelho, o que impede o acesso a nova tomada de recursos) e o uso do fundo de aval:
— O percentual (do fundo de aval) é de 20% da carteira, e os bancos estão dizendo que não arriscarão uma carteira sem garantias.
Outra medida, a concessão de descontos para produtores afetados "está andando", acrescenta Joel. Mas há uma desconexão de informações, "na ponta", nos casos em que o agricultor não tinha direito a desconto, mas podia prorrogar.