Mais do que nos discursos, são nas histórias de quem faz a Expointer que se encontram exemplos concretos da superação pós-catástrofe climática. Entre produtores, expositores e até mesmo em estruturas do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, a tragédia deixou marcas que exigirão uma mobilização contínua para que a reconstrução possa ser considerada completa. O que não impede, no entanto, a motivação para a participação na 47ª edição da feira.
– Antes de qualquer coisa, tem de marcar a retomada, a resiliência do povo gaúcho. Para o pessoal de Bento Gonçalves, onde teve deslizamento de terra, por exemplo, estar na Expointer já é um símbolo de recomeço – destacou Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), uma das organizadoras da Expointer.
Parceira de longa data, referendada neste ano à condição de copromotora oficial, a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) precisou reorganizar o espaço físico da principal competição da raça, o Freio de Ouro.
A arena dentro do parque onde é realizada essa e outras competições, incluindo a pista coberta, foi invadida pelas águas da enchente. Além do reparo da estrutura em si, foi preciso reorganizar o calendário da disputa.
Mudança na visão econômica
– Todo significado que a Expointer tem para a raça crioula, neste ano, ficou maior. Por algum momento, imaginávamos que não iria acontecer, e aconteceu. Nos reinventamos na reestruturação do calendário, tivemos de sair de Esteio para que pudéssemos completar o ciclo. Conseguimos e, por tudo isso, é extremamente relevante – compara César Hax, presidente da ABCCC.
Conhecida por ser um palco de interação entre produtores e público urbano, a feira também deve se colocar como espaço para celebrar a união entre essas partes no enfrentamento da tragédia, que atingiu tanto o campo quanto a cidade, avalia Marcos Tang, presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac).
– Será a Expointer da coragem. Há 90 dias, estávamos com um metro de água dentro do parque. Hoje, está tudo organizado. É um milagre o que se fez nesse curtíssimo espaço de tempo, mostra a qualidade do nosso povo – completa Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
O tamanho do esforço feito para colocar a exposição de pé, mesmo com as dificuldades logísticas de chegada ao parque – com o aeroporto ainda sem voos, o trem sem as estações de Porto Alegre, obras na BR-116 – é corroborado por Claudio Bier, presidente do Simers e da Fiergs.
– É uma feira para começar a levantar nosso Estado de novo – acrescentou Bier.
O clima de otimismo não representa, no entanto, que os problemas trazidos pela cheia acabaram, pondera o presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, mas sim, que é preciso “virar a chave”:
– Temos de acreditar nas possibilidades do Estado, nas mudanças que estamos construindo. A feira será a referência da mudança da visão econômica do Rio Grande do Sul.